Por Vitor Bueno
- Vou te apresentar quem vai ser o melhor jogador de todos os tempos.
Foi essa a frase escutada por Kobe Bryant, que relatou isso em uma descontraída entrevista em 2016, pouco antes de sua aposentadoria das quadras. Quem a teria dito, seria Ronaldinho Gaúcho.
Kobe não titubeou em duvidar: - Como? O que disse? Você é o melhor!
Porém Ronaldinho insistiu: - Não, não. Este garoto ali vai ser o melhor.
O ano era 2005 e a figura a quem Ronaldinho se referia era o argentino Lionel Messi, de 17 anos. Pode parecer espantador um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, em seu auge, referir-se assim sobre um garoto de tão pouca idade, mas o fato torna-se normal quando refletimos a carreira do então garoto.
Enquanto Kobe se impressionava com as palavras de Ronaldinho durante um treino do Barcelona em Los Angeles, do outro lado do oceano surgia um garoto também acima da média. Com um pouco mais de experiência, aos 19, Cristiano Ronaldo já desfilava com a bola nos pés pelos campos da Inglaterra. Contratado aos 18 pelo Manchester United, CR7 já tinha mais rodagem quando Messi entrou em campo pela primeira vez profissionalmente.
É impossível citar um sem lembrar do outro. A rivalidade entre os dois durante seus anos de carreira foi um dos maiores marcos de toda a história do futebol mundial. E esse duelo teve início, de fato, em uma disputa de Champions League.
Durante a disputa do campeonato Europeu na temporada 2007/08, quis o destino que Messi e Ronaldo se enfrentassem durante as semifinais, confronto este que foi liquidado pelo português, que conquistou o prêmio de melhor jogador do mundo no ano de 2008.
A partir desta temporada foi dada a largada à disputa mais emocionante e de mais alto nível entre jogadores de futebol da história. Foram 11 anos de disputa e 11 prêmios de melhor do mundo, seis para Messi e cinco para Cristiano Ronaldo. Mas tudo isso é passageiro, pois até mesmo os mais fortes têm as suas quedas. Afinal, o que seria do futebol sem os seus enredos trágicos e certas vezes masoquistas? Enredos esses que nos passam a sensação de momentos eternos, mas que nos trazem à realidade de tudo ser finito.
No dia 10 de março de 2021, algo quase que inédito nos trouxe esse toque, esse puxão de volta à realidade. Desde o início da carreira destes dois craques do futebol mundial, em apenas uma ocasião os dois haviam ficado de fora das quartas de final da Champions League. Após a temporada 2004/05 em que Manchester e Barcelona caíram nas oitavas, foram 16 anos de hegemonia, em que Messi pelo Barcelona e CR7 por Manchester, Real Madrid ou Juventus, sempre estiveram, pelo menos um dos dois, nas quartas da principal competição europeia.
O acontecimento dos dias 9 e 10, já que Ronaldo foi eliminado no dia 9 e Messi no dia 10, jogou um balde água fria nos fãs do ludopédio. Apesar de já existir há algum tempo em nosso imaginário o fim dessa era, é difícil de aceitar quando ela está diante dos nossos olhos. Presenciávamos, os estádios vazios, sem público, mas cheios de história. Era a queda de dois gigantes, mas não caíam como Golias, que foi derrotado por um oponente aparentemente mais frágil. Messi e CR7 caíram para fortes adversários, que ainda não possuem o tamanho, mas apresentam a perspectiva de um grande futuro.
Enquanto Cristiano digladiava pela classificação da Velha Senhora contra o Porto, o norueguês Erling Haaland, de 20 anos, dava show sobre o Sevilla, com dois gols marcados no empate por 2x2, que garantiu o Borussia nas quartas. Ainda em Turin, Ronaldo tentou levar sua esquadra para a fase seguinte e contribuiu com uma assistência na vitória por 3x2, mas nada adiantou diante dos 2x1 sofridos em Portugal. Caía ali o primeiro de nossos gigantes.
O enredo mais cruel ficou reservado para Lionel Messi. Após o vexatório 4x1 para o PSG em pleno Camp Nou, com uma exibição de gala de Kylian Mbappé, que balançou as redes por três vezes, o Barcelona foi à França tentar o impossível, uma vitória por 3x0. Como apreciadores da história do futebol, sempre tendemos a pensar que nossos idolos serão capazes de executar atos de heroísmo, carregar a bola consigo e colocar o time na próxima fase. Mas o destino não é capaz de nos permitir acreditar.
Em Paris, Mbappe foi às redes novamente e marcou 1x0 para o PSG, mas logo em seguida, com toda a genialidade de quem nasceu para o futebol, Messi mandou a bola na gaveta, em um gol admirado por todos, que só não foi aplaudido de pé porque as cadeiras estavam vazias.
O 1x1 com o golaço de Messi chegou a indicar que poderíamos presenciar um feito histórico, mas a realidade da história nos chama e o destino é cruel. E o pior aconteceu quando nos acréscimos do primeiro tempo Messi teve um pênalti para cobrar. Era a chance de colocar o Barcelona à frente do placar, para voltar ao segundo tempo e buscar a classificação. Mas dessa vez, quem foi cruel conosco foi o goleiro Keylor Navas, que defendeu a cobrança.
Após o término de um segundo tempo sem gols, presenciávamos, na mesma semana, a queda do nosso outro Golias. Dessa vez, derrotado diretamente por seu Davi.
Cristiano Ronaldo e Messi são estrelas que aos poucos vão perdendo o seu brilho, mas que dão lugar à novas genialidades, emergidas para nos agraciar com mais 10 anos de hegemonia. Ou mais. Pois no futebol, as coisas são como na vida: o tempo passa, os craques envelhecem e chegam ao seu fim, mas sempre teremos motivos para gostar de apreciar o bom futebol.
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