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A família construída na universidade

Atualizado: 5 de mar.

Funcionando desde 1999, a República mais antiga de Uberlândia revela desafios e alegrias


Por: Enzo Stroppa e Igor Fernandes


O compartilhar Foto: Enzo Mari Stroppa

Com o início de um novo semestre, calouros como Felipe Dourado, do curso de Ciências Econômicas, embarcam na busca por um lar longe de casa. Para ele, a solução foi a República Taverna, que não só ofereceu um lugar para morar, mas se transformou em uma segunda família.


Felipe Dourado é apenas um dos milhares de ingressantes que a UFU recebeu neste semestre. Na República mais antiga de Uberlândia todos têm um apelido, Fly, Biscoito, Toddy, Bila, Casão, Cajado e Sid, são alguns dos moradores que tornam a casa especial. Pela falta de um, Felipe é o “bixo 2”. O senso de comunidade transcende gerações na moradia das cores azul e amarelo que mantém uma tradição de realizar uma festa anual com a presença de ex-residentes. "Todo mundo que morou aqui ajuda a gente a seguir no local", contou Enzo Mohamed, estudante de Psicologia na UFU e carinhosamente apelidado de Bila, um dos mais antigos moradores da Taverna. 


Na dinâmica das repúblicas universitárias, a recepção aos novos integrantes desempenha um papel crucial na integração dos calouros. Ao ingressar nesses espaços, os veteranos assumem a função de mentores, dividindo experiências e oferecendo orientação aos recém-chegados. Essa interação define uma troca que transforma uma simples moradia compartilhada em um verdadeiro lar, onde a solidariedade e o senso de pertencimento são os pilares fundamentais. Natural de Jaboticabal, no interior paulista, Felipe chegou à Taverna em meados de fevereiro. "Do pouco tempo que cheguei, o pessoal me recebeu super bem", conta.


Desafios e mudanças na cultura das repúblicas


A Taverna é a república mais antiga em Uberlândia que segue ativa desde 1999. Os moradores relatam que o hábito de convívio e o compromisso com as funções e responsabilidades é o que mantém a comunidade unida. "República não é só um lugar para economizar dinheiro, o principal é a irmandade” diz Toddy (Gabriel Pontes), um dos veteranos na moradia.


Os mais antigos da casa percebem uma mudança de comportamento dentro da Universidade, o que tem desfavorecido a cultura das repúblicas. "As pessoas estão muito focadas no movimento de Atléticas, a mentalidade mudou e as repúblicas ficaram de lado. Além disso, muita gente não valoriza a irmandade; para alguns, é apenas um lugar mais barato para dormir", observou Purê.


Fundar uma república nem sempre é fácil, por vezes os proprietários de imóveis demonstram resistência, revela Gabriel Pontes. Durante um processo de mudança de casa, ele conta que o dono negou a possibilidade da formação. Uma das principais preocupações é o potencial de danos ao local, uma vez que esse tipo de habitação costuma abrigar um grande número de pessoas, muitas vezes jovens e inexperientes com responsabilidades de manutenção.


“Se o dono não quiser, não terá, e ele tem total liberdade para isso”, afirmou Lucas Pinheiro, advogado imobiliário. Alguns proprietários podem preferir alugar para famílias ou profissionais, em busca de uma relação mais estável e tranquila com os inquilinos. O receio de perturbação do sossego e possíveis problemas de convivência com vizinhos devido a festas ou comportamentos inadequados por parte dos moradores, também são levados em consideração.


Anotar para não esquecer. Foto: Enzo Mari Stroppa

Residentes da Taverna revelam que muitos não têm uma visão positiva das repúblicas, especialmente quem mora por perto. Segundo eles, houve uma reclamação de pessoas de um prédio próximo sobre o descarte inadequado de lixo, mas a revisão das câmeras de segurança revelou que o responsável pela infração era outro morador da rua. 


Os filhos também podem enfrentar problemas com familiares desfavoráveis à ideia de ficar em repúblicas, preocupados com os desafios e influências desconhecidas. Esse ceticismo por parte dos pais pode tornar ainda mais difícil para os universitários encontrarem um lugar de integração, pertencimento e moradia, que mantém essa tradição viva. 


Reconhecimento e integração das repúblicas na UFU


Na UFU, as repúblicas estudantis estão sendo integradas gradativamente na instituição como parte de várias comunidades que constroem uma Universidade. No último ano, a Taverna foi convidada para participar do “Vem Pra UFU”. “Quando eles começaram a ver que tinha morador com 3 iniciações científicas, fazendo parte do PET, à frente de grupo de estudos, perceberam que morar em república não desvaloriza o sentido de ser estudante.” diz Fly, morador da república e presidente do Grêmio das Repúblicas Associadas de Uberlândia.


Símbolos marcam momentos e paredes. Foto: Enzo Mari Stroppa

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