Por Gabriela Pina
Cloroquina: o tratamento precoce milagroso para o coronavírus, recomendado por Bolsonaro — e sua trupe militar e negacionista — e rejeitado pela Organização Mundial da Saúde. Desde os primeiros meses de 2020, quando a pandemia chegou de avião no Brasil, vinda diretamente da Europa, o atual presidente desta judiada república dedicou grandes esforços à ela. Debochando, minimizando e desprezando medidas protetivas. Favorecendo seu avanço e contribuindo para que progredisse de maneira que passássemos da posição de um dos últimos países a registrar os primeiros casos da doença para onde nos encontramos agora, maio de 2021, na condição de epicentro mundial da pandemia.
Mais de 400 mil mortos. Média de três mil mortes diárias. Menos de 10% da população vacinada. Pior colocação em ranking das reações de países à Covid-19. Fábrica de novas variantes. Dia após dia, quebrando nossos próprios recordes trágicos e medonhos. Pária global e com razão. Esse é o retrato do Brasil no momento. Poderia esta situação ficar ainda pior? Se algo foi provado nos últimos anos é que sim, sempre pode piorar, principalmente quando somos governados pela incompetência e irresponsabilidade em pessoa — ou um grande articulista de planos terríveis. De qualquer forma, um inegável inimigo do povo. Povo que está morrendo, morrendo de Covid, morrendo de fome, morrendo de desilusão e tristeza.
Em meio ao caos instalado, como poderia Bolsonaro ficar calado? Ele não ficou, é claro. O “capitão” vem divulgando e endossando o uso de medicamentos que supostamente serviriam o propósito de prevenção da contaminação do coronavírus. Tais remédios não possuem comprovação científica alguma para serem usados com este fim. De fato, vários estudos mostraram que o uso contínuo e preventivo das substâncias é prejudicial à saúde física e mental. Alguns dos efeitos que podem causar são distúrbios de visão, irritação gastrointestinal, alterações cardiovasculares e neurológicas, entre outros, de acordo com a Agência de Medicamentos da União Europeia, que já baniu o uso de drogas que possuam cloroquina para pacientes com Covid-19.
A ciência e a razão, mais uma vez, não foram o suficiente para fazer a família Bolsonaro reavaliar as declarações e se retratar. Nunca será, aparentemente, pois isso não faz parte de sua agenda. Na contramão de todo e qualquer bom senso, nosso não-tão-benquisto presidente não apenas segue promovendo esse tipo de tratamento preventivo falho e que incentiva o relaxamento das medidas realmente eficientes (como uso de máscaras, distanciamento social e vacinas), como também inova em seus métodos de atentar contra a vida dos brasileiros.
Recentemente, Jair Bolsonaro recomendou sua mais nova aposta contra a pior crise de saúde em décadas: inalação de comprimidos de cloroquina, diluída, por meio de nebulização. E ele não está sozinho, outros de seus apoiadores, alguns políticos também, já estão defendendo o novo método. Se a ingestão convencional do remédio já havia se provado perigosa, esta invenção sem qualquer respaldo científico parece ser fatal. No Estado do Rio Grande do Sul, três mortes estão sendo apuradas, com a suspeita que a nebulização de cloroquina tenha sido a principal causa delas. A médica responsável pelos pacientes que faleceram foi demitida do hospital e está sendo investigada pela prática antiética, já que estava ministrando experimentos ilegais.
A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, assim como outras instituições e profissionais já se manifestaram contra a intervenção infundamentada e alertaram sobre seus inúmeros riscos. Não há dúvidas, o principal representante oficial do governo e do nosso país deveria coordenar uma ação de combate a esse tipo de farsa, certo? Quem sabe, em dois anos, teremos um líder condizente. Quem sabe. Até lá, mais lives incoerentes, declarações absurdas e notícias falsas nos aguardam.
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