Por Lígia Cypriano
O número é o 102. A primeira porta à esquerda após dois lances de escada do Edifício Gardênia. Deste apartamento ouvimos o som de músicas pela manhã, os ritmos vão de reggaeton a sertanejo, e a playlist se estende até a tarde. Os vizinhos que os perdoem por conta do barulho, a vida é uma festa!
Mas, por trás da alegria aparente desse lar, a realidade é diferente, outros sons se apresentam quando todos já estão dormindo. Com a chegada da noite a música é substituída por batidas e a aparente animação, que transbordava por todo prédio, cessa. O desespero e o medo proporcionado pelos gritos na madrugada invadem os demais lares e todos se perguntam o que devem fazer.
Toda a comunidade comentava no dia seguinte, três andares discutindo o que fazer a respeito daquele casal. Alguns já até arriscaram conversar com eles no momento da briga, mas não são atendidos ou pela fresta da porta ouvem um breve “vão embora”.
As palavras ouvidas foram descritas em um e-mail e enviadas para a administração do condomínio. No entanto, a pandemia não tem sido boa para o mercado imobiliário de Uberlândia, dificilmente alguma providência será tomada devido à falta de provas e incidentes mais graves. Devemos chamar a polícia? Houve agressão? Existe alguém machucado?
O silêncio de quem vive lá é o resultado de um mar de indagações, pois os gritos que deveriam parar continuam a tomar as noites no Gardênia. Gritos que ecoam não só nessa cidade, mas também nas vozes de outras 102 mulheres a cada hora em todo o Brasil.
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