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Atraso na vacinação escancara a nossa dependência da Coronavac

Por Vitor Bueno


É fato que a política de condução da pandemia de COVID-19 no Brasil é desastrosa. Com o descaso do governo federal e as ações divididas entre governadores e prefeitos, os quais tomam suas decisões de forma isolada e sem coalizão, o país abriu mão de um lockdown coletivo para salvar vidas e viu a marca de 400 mil mortes ser atingida no dia 29 de abril. Além disso, a sabotagem à vacinação feita pelo presidente contribuiu para que esse processo fosse mais lento que o necessário, apesar de a população continuar recebendo as doses gradualmente.


Em 2020, a presidência da República recusou uma oferta de 70 milhões de doses de vacinas da Pfizer, além de adotar um tom de deboche para a vacina Coronavac (da chinesa Sinovac e que, no Brasil, é produzida pelo Instituto Butantan). Em janeiro de 2021, a Coronavac foi a primeira vacina a receber o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial no país e, no mesmo dia, já foi iniciada a vacinação. Esse foi o primeiro golpe recebido pelo governo em relação à imunização.


Colocando suas fichas na vacina ChAdOx1, produzida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, o governo federal viu a Coronavac assumir o protagonismo da imunização do país. Atualmente, mais de 80% das doses aplicadas são da vacina chinesa, de acordo com dados do consórcio dos veículos de imprensa que acompanha o andamento da pandemia no Brasil.


Enquanto isso, a vacina de Oxford é responsável por menos de 20% da vacinação e enfrenta problemas em todo o mundo no sentido de ritmo da produção e distribuição. Na Europa, o imunizante já recebeu críticas, e a vacinação com ele vem enfrentando algumas pausas devido a efeitos colaterais. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Europeia de Medicamentos garantem a segurança da vacina (EMA).


Campanha de vacinação contra Covid19 no sistema drive-thru em Brasília. Foto: Tony Winston/MS

Com todo esse cenário, o presidente Jair Bolsonaro, que ironizou a Coronavac, a vê salvar o seu Plano Nacional de Imunização (PNI). Mesmo com campanha contrária à vacinação por parte de Bolsonaro e que ela só tenha deslanchado sob seu governo por conta de pressões políticas, é notório que imunizar a população é parte crucial para a retomada das atividades econômicas. E, caso não fosse a vacina do Butantan, o Brasil teria aplicado pouco mais de quatro milhões e 600 mil doses, número muito inferior aos mais de 23 milhões já aplicados.


Notadamente, vemos um cenário longe do ideal e que nos mostra a nossa dependência da Coronavac. Para que seja possível retornar às atividades econômicas de forma segura e evitando mortes, o país precisa aumentar ainda mais a vacinação, que vem contemplando uma média de 800 mil pessoas por dia ao longo das semanas.


No entanto, isso só será possível com o aumento exponencial de doses disponíveis, que depende de uma maior produção por parte da Fiocruz, responsável pela ChAdOx1 no Brasil. Além disso, vacinas recusadas no ano passado, como a da Pfizer, foram compradas e passam a ser parte importante para o PNI no segundo semestre, momento em que precisaremos de mais doses para vacinar faixas etárias com maior densidade populacional. Em suma, todo o cenário escancara a dependência da nossa população ao imunizante do Butantan, apesar do constante boicote e do negacionismo do presidente e até uma parcela dos brasileiros.


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