Por Vitor Bueno
Marcas expressivas compõem a passagem do arqueiro pelo clube de Minas Gerais, são mais de 900 jogos, 17 temporadas seguidas como titular na meta do Cruzeiro, 32 pênaltis defendidos, 12 títulos, além de defesas sensacionais e históricas. Fábio é, de fato, unanimidade quando se fala em goleiro na Toca da Raposa, unânime entre funcionários, entre torcedores, entre jornalistas e, na história do Clube.
Com tantos números importantes, o atual goleiro celeste é visto por muitos como o maior da história do time mineiro, superando nomes importantes e consolidados como Dida, Gomes e o lendário Raul Plassmann.
O gol está no sangue
Filho do “seu” Docão, que também era goleiro, parecia que já estava escrito, como uma marca sanguínea na família. Quando jogava em sua infância, Fábio não gostava muito de correr e se dava bem com as mãos, como disse em entrevista ao Globo Esporte Minas.
A ida ao Cruzeiro
Após ser observado e se destacar ao jogar um campeonato em sua cidade, Aparecida do Taboado, foi levado ao juniores do União Bandeirante, onde também se destacou. Zé Bisteca, dirigente do União na época, o levou ao Cruzeiro depois de uma passagem pelo Atlético Paranaense e foi aí que tudo começou.
A primeira passagem pelo Cruzeiro não foi de muito brilho. Apesar de ter sido campeão de uma Copa do Brasil, Fábio foi reserva quando defendeu a Raposa entre 1999 e 2000, por empréstimo. Depois, foi vendido ao Vasco, onde fez boas atuações e retornou ao Cruzeiro em 2005, agora de forma definitiva. O goleiro chegou para ser titular e foi bancado pelo técnico Levir Culpi, que apesar de algumas falhas o manteve entre os 11 iniciais do Cruzeiro. O respaldo do treinador foi fundamental para Fábio seguir sua carreira e se consolidar como hegemônico no gol do time celeste.
Fé em Deus: um alicerce na carreira do jogador
Foi em 2007, após uma má atuação contra o rival Atlético Mineiro, que o jogador deu uma guinada crucial em sua vida e em sua carreira. O jogo foi aquele 4 a 0 que todos se lembram, em que Fábio falhou e falhou feio: tomou um gol em um momento que estava de costas para a partida. Como se não bastasse, saiu de campo com uma lesão no joelho.
O momento deste acontecimento na vida de Fábio foi bem específico. Ainda muito jovem, o goleiro levava uma vida de não muito comprometimento com a própria profissão e de muitos desvios do seu objetivo principal: jogar futebol. Ele mesmo relata que era uma época de muita arrogância em seus pensamentos e atitudes.
Após a lesão no clássico, o diagnóstico apontava uma recuperação ao longo de seis meses, mas o goleiro conta que, durante esse período, começou a frequentar uma igreja, na qual o pastor disse que ele se recuperaria em apenas dois meses e meio. Fábio então recuperou-se em tempo recorde, contrariou todas as previsões médicas e retornou aos gramados antes do previsto.
Segundo o próprio, esse foi o momento em que encontrou Deus e fez da fé n’Ele o principal alicerce de solidificação da sua vida. Ainda para o GE, o jogador disse que “esse gol foi o único gol que tomei e me trouxe a verdadeira alegria que foi reconhecer que eu precisava de Jesus”. Com essa mudança, Fábio conseguiu se consolidar de fato na posição, através de uma mudança em seus comportamentos dentro e fora de campo e também do aumento de seu comprometimento. Fábio agora era titular para nunca mais sair.
Lealdade: uma característica de Fábio
O goleiro esteve nos momentos mais alegres e nos mais difíceis do time nas duas últimas décadas. Um dos momentos mais tristes foi a derrota para o Estudiantes de La Plata, da Argentina, na final da Libertadores de 2009 em pleno Mineirão. O jogo contra os argentinos foi marcado por uma atuação muito abaixo do time celeste e Fábio, apesar de não ter falhado nos dois gols sofridos em Minas Gerais, não viveu uma de suas melhores noites.
Porém, teve um de seus grandes momentos com a camisa celeste em 2011, quando ajudou o time a se salvar do rebaixamento, em um ano no qual o goleiro fez excelente temporada e foi importante em momentos cruciais na campanha de recuperação do time.
Fábio também participou de maneira efetiva das mais felizes glórias. Além da conquista de 12 Campeonatos Mineiro, levantou duas taças do Brasileirão de forma seguida, em 2013 e 2014 e também, de forma seguida, foi fundamental nas conquistas das Copa do Brasil de 2017 e 2018. Dos 32 pênaltis defendidos vestindo o manto celeste, dois foram em disputas de pênaltis na Copa do Brasil 2017, um de Luan, do Grêmio, na semifinal, e outro que saiu dos pés de Diego, do Flamengo, na final. Já na Copa do Brasil de 2018, Fábio surpreendeu e defendeu três cobranças seguidas na disputa de pênaltis contra o Santos, pelas quartas de final, em uma atuação de gala do arqueiro.
Em 2019, Fábio foi do céu ao inferno: após o título do Campeonato Mineiro e da melhor campanha na fase de grupos da Libertadores, o time entrou em queda livre no Campeonato Brasileiro, rumo à segunda divisão. Em meio a escândalos de corrupção da diretoria do Cruzeiro, que foram escancarados por reportagem da TV Globo exibida no Fantástico em 26 de maio daquele ano, atrasos salariais e um elenco descomprometido, o rebaixamento foi concretizado ao final da 38ª rodada do Brasileirão. Fábio, junto de outros jogadores mais identificados com o Clube, como Léo e Henrique, chegou a ser acusado de omissão por parte de alguns torcedores.
Mesmo assim, no ano seguinte, Fábio honrou toda a sua história no Cruzeiro e acertou a sua permanência para a disputa da Série B. A grave crise financeira atravessada pela instituição fez com que o ídolo celeste readequasse seus vencimentos mensais para continuar jogando sem trazer maiores prejuízos ao Clube. Em entrevistas, o jogador admitiu que chegou a reduzir seu salário em mais de 80% para continuar no Cruzeiro.
Embora o time não tenha conseguido o acesso à primeira divisão em 2020, Fábio permaneceu para a temporada 2021 e agora tentará novamente subir de volta à série A do Campeonato Brasileiro. A permanência de Fábio em um momento tão difícil para o Cruzeiro representa não só o seu amor pelo Clube, mas também a sua grandeza e lealdade à instituição e ao torcedor. Em um período de tanto sofrimento, ter um jogador da magnitude de Fábio no elenco é um alento ao ego do torcedor mais apaixonado.
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