Por Heuler Reis
Após um longo ano de 2021 sem ver praticamente ninguém, além do meu irmão, e poucas vezes saindo de casa, reservando-me somente para o essencial, pude retornar para a casa de minha mãe no interior de São Paulo.
Depois de um par de meses por aqui, chamei meu melhor amigo - cuja amizade já passa de 14 anos - no Whatsapp. Perguntei sobre a possibilidade de nos encontrarmos - eu, ele e meu irmão gêmeo - na casa dele para que pudéssemos colocar a conversa em dia.
Seus pais viajaram, então ele nos convidou para irmos. Como sempre, conversamos sobre os assuntos mais aleatórios. Os temas variavam entre criptomoedas, música, histórias, pessoas engraçadas e, eventualmente, assuntos da atualidade.
Não sei, então, como chegamos à vacinação infantil, mas chegamos. Meu amigo contava que sua mãe estava com receio de tomar a dose de reforço da Pfizer, portanto, tomou Coronavac como reforço para as duas doses de Astrazeneca.
Sua mãe dizia, segundo meu amigo, que a Pfizer tinha reações mais fortes e que também era contra a vacinação infantil com o imunizante da referida empresa. Ao que nosso amigo imediatamente protestou: “quem é você agora, mãe? Jair Bolsonaro? Você é contra vacinar crianças?”. Já a resposta foi: “Renan, olha como seu pai ficou depois de tomar a Pfizer! Ficou todo derrubado. Criança nenhuma aguentaria isso!”.
A mãe de meu amigo, que está bem longe de compactuar com Bolsonaro em qualquer aspecto - quanto mais na sua sanha antivacina -, tem medo, pois acredita na falsa premissa de que as doses pediátricas do imunizante Pfizer são as mesmas dos adultos. Não são, as doses pediátricas são um terço da aplicada em um adulto, além de terem compostos diferentes.
A questão aqui é que a ignorância de Dona Elaine é vencível. Eu gostaria de poder retornar lá e explicar as diferenças. Imediatamente, ao ver que suas premissas estão equivocadas, ela mudaria de opinião e apoiaria a vacinação. Inclusive seria mais uma a disseminar a informação correta.
Algo que é diametralmente oposto ao que faz o senhor Jair Bolsonaro, a quem meu amigo comparou a mãe no momento do protesto. Bolsonaro possui uma espécie de ignorância invencível. Invencível não por ele não possuir meios para se informar, mas por ele não possuir a menor vontade de mudar o seu já motivado raciocínio.
Tantas e tantas vezes lhe foi apresentado que estava errado, que estava desinformando e que estava mentindo. Ao contrário de Dona Elaine, ele não tem a grandeza e honestidade para mudar de opinião diante de dados incontestes. O mundo deve se dobrar à crença dele; pois ele jamais se dobraria diante dos fatos.
O ignorante invencível é o tipo mais perigoso e triste de ser humano. Oferece risco para si e para os outros. Pobre de sua filha, Clara, que não será vacinada, pois o ignorante tem uma crença fixa de que vacinas são algo dispensável. Seiscentos mil mortos depois o ignorante invencível segue firme na crença de que o vírus é a melhor vacina.
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