Por Gabriela Pina
O Brasil é conhecido mundialmente pela riqueza da nossa fauna e flora, com vários biomas coexistindo em nosso território, assim como grande parcela da maior floresta tropical do mundo, a floresta Amazônica. Porém, infelizmente, também somos conhecidos no cenário ativista mundial como um dos países que mais mata ambientalistas, ocupando a trágica e vergonhosa terceira posição do ranking, de acordo com a organização internacional Global Witness.
Lastimavelmente, esta é uma realidade continental: a América Latina é a região que mais os assassina, com mais de dois terços do total de mortes do tipo em 2019, ano recorde em relação a estes casos, segundo o mesmo relatório. Outro dado importante é a predominância de pessoas de comunidades indígenas entre as vítimas, pois são a população mais vulnerável tanto aos ataques quanto aos efeitos da devastação ambiental. Até mesmo o atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, propôs a criação de um observatório pela visibilidade do meio ambiente dentro do bloco Mercosul, ainda sem sucesso. E, obviamente, no que depender do nosso presidente, continuará assim.
Em meio a incêndios constantes de áreas protegidas, desapropriação de terras indígenas, desmatamento desenfreado — ilegal todavia consentido por ficalizações frouxas e juízes permissivos, apropriação e gastos enormes de recursos para a agropecuária, grilagem, ações de mineração intensas e irresponsáveis, poluição hídrica generalizada e tantos outros problemas, os defensores da mãe natureza ainda se encontram em grande risco de serem presos ou mortos pelo seu trabalho de vigilância e denúncia, com o apoio, quase, explícito do governo federal.
E este não é nem de longe um problema recente. Afinal, um dos maiores símbolos do movimento ambiental no Brasil é Chico Mendes, sindicalista que morreu por lutar contra o desmatamento e por melhores condições de trabalho para os seringueiros. E, como apontado, ele é um de vários ativistas mortos todos os anos. Perseguições, ameaças e desmoralizações são, na verdade, o esperado para aqueles que ousam ir contra a lógica capitalista de exploração descomedida e vertiginosa. Os responsáveis por isso são de diversas camadas da sociedade: parcelas de fazendeiros, políticos, juristas, pistoleiros.... e por aí vai.
Não há como isentar, também, a responsabilidade de uma parcela da própria mídia por isso. Nada surpreendentemente, veículos que possuem clara tendência neoliberal, declaradamente ou não, corroboram a imagem demonizada de ambientalistas, usando expressões absurdas como “ecoxiitas” e “ecoloucos”, até em matérias que não são de caráter opinativo — ou pelo menos não deveriam ser.
Entretanto, o que esperar do país de Bolsonaro? O estadista é conhecido por desprezar completamente as questões ambientais e ter ele mesmo uma coleção de crimes ambientais nas costas, seja como figura de Presidente da República ou como cidadão ordinário desta nação extraordinariamente escarnecida. O que, aliás, não é nem um pouco exclusivo dentro da esfera política, sendo um feitio compartilhado por vários governadores, deputados, prefeitos e vereadores de todos os cantos do nosso 'Brasilzão'.
Ainda esse ano, a alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, criticou o desmatamento no nosso país, denunciando o nítido desmonte dos mecanismos de proteção e controle ambiental, além dos ataques crescentes a ambientalistas, defensores dos direitos humanos e jornalistas. Como de costume, pessoas do alto-escalão do governo desdenharam da gravidade do que estamos vivendo. Sem assombro, uma vez que são diretamente culpados por isso.
No entanto, Ricardo Salles, um dos ministros sobreviventes do governo Bolsonaro desde o primórdio, no comando do Ministério do Meio Ambiente, continua obstinado no que parece ser sua missão: desmantelar as normas e estruturas de proteção ambiental o máximo que conseguir, seja legalmente, seja pelo descaso. O que nos resta é esperar que a história lembre dos seus grandes feitos, como recorde atrás de recorde negativo em relação a todas as esferas possíveis dentro da pasta ambiental.
O último dia 9 de abril marcou mais dois recordes que, funestamente, já nos acostumamos e, mais deploravelmente ainda, temos certeza que serão breves: maior número de mortes registrado em uma sexta-feira (3647) e o maior desmatamento da Amazônia registrado em um mês de março desde 2015 (367,61 km²). Ambos os casos, indo diretamente em contramão da conjuntura mundial.
A atual situação é notoriamente — e percebida como tal — uma ameaça de escala global, no mínimo do ponto de vista biológico. O que também se torna uma ameaça à nossa soberania nacional, a longo prazo. Em suma, é um vórtice de acontecimentos que ameaça não somente ambientalistas e outros defensores de direitos humanos, embora sobretudo eles, mas sim toda a população, do ponto de vista ambiental e política.
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