Filme de terror norte-americano e sueco promove uma discussão sobre até onde pode ir a busca desesperada por afeto
Por Bruna Sousa
Esse filme foi dirigido por Ari Aster e lançado em setembro de 2019, que está disponível na plataforma de streaming Amazon Prime. Desde o começo do filme, vemos uma sobriedade e dor contida, onde a personagem principal emana uma sensação de claustrofobia e segue assim até o fim. Sob sua perspectiva diferente, vemos o filme se transformar de pesadelo ao sonho e depois a trevas novamente.
A narrativa começa após Dani (Florence Pugh) vivenciar uma tragédia pessoal, e decidir viajar com o namorado Christian (Jack Reynor) e um grupo de amigos até a Suécia para participar de um festival local de verão. Mas, em vez das férias tranquilas com a qual todos sonhavam, o grupo vai se deparar com rituais bizarros de adoração pagã.
Dani e Christian são um casal que enfrenta sérios problemas no seu relacionamento. Cada vez mais afastados entre si, eles entendem a viagem como uma necessária chance de reconciliação. Mas à medida em que se deparam com rituais gradativamente mais escatológicos e horripilantes, passam a perceber que existe um motivo muito mais obscuro para estarem ali.
Os estranhos aldeões que os recebem são cheios de cortesia exagerada e logo revelam os lados mais brutais e fatalistas de suas crenças. Midsommar passa boa parte de seu tempo incitando dúvidas no mínimo interessantes. O brutal suicídio de um casal de aldeões, que chegou à idade de 72 anos, idade máxima da vida deles na aldeia, choca pela violência corporal gráfica das mortes, mas cria um paradoxo ainda mais perturbador, que vem pela fala de Christian: “nós colocamos nossos idosos em asilos, e isso deve ser perturbador a eles”. Para uns, o fim de um ciclo, e para outros, loucura.
Uma vez passada a estranheza das primeiras tradições, Dani passa a enxergar naquela sociedade uma possível família, identificando na união entre seus membros a ajuda de que tanto precisa. Mesmo severamente deturpado, arcaico e fortemente inspirado em ideais de eugenia (teoria horrenda que sustenta que determinadas “raças” humanas são superiores a outras), reside ali um forte senso de companheirismo, sentimento que seduz a personagem, disposta a fazer parte daquele universo não importa o quão sujas de sangue fiquem suas mãos. Dessa forma, é possível perceber uma história sobre como a solidão nos guia a encontrar as formas mais desesperadas de afeto. Mas mesmo diante de todas as virtudes do filme, algumas cenas se estendem demasiadamente, perdendo um pouco o impacto e gerando um leve cansaço. Todavia, isso não chega nem perto de diminuir as inúmeras qualidades que “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite” possui, terror que permanece na cabeça muito após a sessão.
Denso e repleto de significados ocultos, o filme é perfeito para ser assistido diversas vezes. Pois, a angústia dos assuntos pessoais mal resolvidos, soma-se a ansiedade diante do desconhecido, de um coletivo que não só fala outra língua como segue diferentes costumes.
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