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Onde nasce a esperança

O que se iniciou na graduação com o desejo de promover a longevidade para pacientes com câncer tornou-se a descoberta de uma molécula que cria expectativas para o combate ao câncer


Por Bruna Villela e Monique Mavillyn


Ao pesquisar no dicionário, a esperança é definida como o sentimento daqueles que enxergam a possível realização daquilo que desejam. Laboratório adentro, junto aos tubos de ensaio e microscópios, a esperança é restabelecida a cada descoberta – como em uma caixa de pandora.


A Ciência se destaca pela capacidade de promover avanços à saúde humana, principalmente em relação à patologias (doenças) — como o câncer. Um dos primeiros marcos do tema no Brasil ocorreu em 1942, com a publicação da primeira tese sobre citologia no país: “Novo Método de Diagnóstico Precoce do Câncer Uterino”, de autoria do escritor e médico Antônio Vespasiano Ramos, que atuou no Instituto de Ginecologia (UFRJ-RJ).


Desde então, outros feitos foram realizados, como o “I Prêmio Internacional de Citologia do Câncer” concedido pela Sociedade Panamericana de Citologia do Câncer, em 1958, à Sarah Kubitschek — então primeira-dama do Brasil. A premiação foi em razão de sua liderança na educação para o combate ao câncer feminino e pela criação do Centro de Pesquisas Luiza Gomes de Lemos, no ano de 1957. Atualmente, além do diagnóstico e combate, outras preocupações motivam os pesquisadores.


(Pedro Henrique Alves Machado, pesquisador da nova cura para o câncer). (Foto: Monique Mavillyn)

Há cerca de cinco anos, um jovem biologista deu início a um estudo voltado para o câncer. Pedro Henrique Alves Machado é Doutor e Mestre em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e foi ao final da graduação que passou a experienciar a área de tratamento tumoral. Hoje, dedica-se quase exclusivamente à sua recente conquista: a descoberta de um complexo de cobre que pode tratar o câncer de colo de útero, de pele e sarcoma.


O trabalho é orientado pelo professor Robson José de Oliveira Junior — Doutor e Mestre em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia, e professor Adjunto no Instituto de Biotecnologia da UFU — e financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG). Após seu crescimento em meio ao universo da ciência, Pedro Henrique contou para a equipe do Senso (in) Comum sobre sua trajetória e expectativas com a pesquisa que desenvolve.


  1. Por que o Câncer, dentre todas as temáticas que envolvem a Ciência?


Na época em que comecei a fazer pesquisa, estava no 2° ano de Ciências Biológicas e sempre quis trabalhar com envelhecimento. Na minha cabeça ingênua, pensei que pudesse haver alguma maneira de aumentar a longevidade. Até que em um evento do laboratório, descobri que meu atual orientador trabalhava com uma proteína voltada para o câncer. Então, como estava próximo do meu interesse, comecei a trabalhar com o setor genético utilizando células de câncer de camundongo para entender a transformação de uma célula normal a uma tumoral. Durante quase quatro anos atuei nisso e pretendo continuar.



2. Há algum motivo específico para a escolha do camundongo?


O camundongo é de fácil manutenção, se reproduz rapidamente e tem uma similaridade genética muito grande com os humanos. Pelo mesmo mecanismo que nós desenvolvemos câncer, os camundongos também desenvolvem. A maioria das universidades pelo mundo utilizam por ser um animal favorecido geneticamente. Existem algumas linhagens específicas e dependendo do que você está estudando, é possível manipular um organismo para atender a uma característica desejada.


3. Como as pessoas costumam reagir ao saberem da pesquisa?


Depois da notícia publicada no Portal Comunica UFU, vários lugares nos procuraram para falar sobre a pesquisa, que acabou tomando uma proporção muito grande por ser uma molécula inédita. Só que, às vezes, isso é exposto na mídia de uma maneira que o pessoal não entende. É comum acharem que já podemos aplicar e testar em humanos… Isso acaba mexendo bastante com o sentimento das pessoas. Quando eu publiquei a descoberta em meu perfil no LinkedIn, muita gente veio perguntar se poderiam se voluntariar ou vieram falar das famílias. Ter contato com essas histórias é triste.


4. No cenário atual, a pesquisa tem alguma limitação econômica?


Nos últimos tempos temos lidado com a diminuição de repasse. Daí improvisamos, damos ‘aquele jeitinho’ mas sentimos as dificuldades. Nosso laboratório não é um dos mais tecnológicos, mas cada equipamento é muito caro: um microscópio barato é 10 mil reais e uma balança custa 50 mil reais. Sobrevivemos da verba que é repassada pela universidade, que vem do Governo Federal. Também recorremos às agências de fomento, em Minas Gerais os professores inscrevem projetos à FAPEMIG. Tem coisas que compramos e acabamos tendo que usar vencidas porque a verba demorou para chegar.


5. Qual sua motivação para com as pessoas que têm câncer?


O que nos incentiva é tentar ajudar pessoas que vão passar por isso ou que precisam desse tratamento para ter uma qualidade de vida melhor. O que a gente quer mesmo é um dia fazer algo pela ciência, quem sabe essas pessoas possam usufruir disso e que vidas possam ser salvas. A gente sabe o tanto que é sofrido o tratamento, quantos efeitos colaterais existem… E pensamos tudo em relação a isso. Ficar rico ou famoso, nem passa pela nossa cabeça, sabe? É mais em relação à “consegui fazer alguma coisa legal pelas pessoas e pelo mundo que eu vivo!”.


6. O Pedro ser humano e o Pedro cientista têm as mesmas expectativas com o estudo?


Sim. É basicamente isso: olhar pra trás e ver que tive uma certa importância. Se isso não virar um medicamento, que sirva outros pesquisadores a não irem pelo mesmo caminho e não perder tempo. Pode ser que mais na frente alguém se inspire na gente e descubra um medicamento eficaz para o câncer. Descobrir como as coisas e o mundo funcionam, o que leva ao quê, me fascina.



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