Projeto da UFU celebra mulheres e arte
- Senso Incomum
- 6 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de mar. de 2024
“Entre Telas e Páginas” faz encontros sobre obras femininas na literatura e no cinema
Por: Felipe Domingos e Vítor Turolla

“Tive o privilégio de crescer cercada pelos livros” - Iolanda Barbosa. Foto: Felipe Domingos
Após mais de um ano de encontros e debates desde sua criação, o projeto “Entre Telas e Páginas”, do Instituto de Letras e Linguística (Ileel), realiza um mês dedicado aos trabalhos de artistas brasileiras. Com a exibição do filme “Sonho de Valsa” da diretora Ana Carolina, seguido de um debate em torno da temática amorosa no filme e nas poesias do livro "Cantares” de Hilda Hilst, os idealizadores aproveitam o Mês das Mulheres, para trazer à tona as discussões sobre o papel e a importância do feminino nas artes.
O projeto elaborado pelo professor Leonardo Francisco Soares e pela servidora pública Iolanda Silva Barbosa, têm suas reuniões abertas ao público, quinzenalmente nas quintas-feiras às 18h30, na Oficina de Cultura de Uberlândia. Seguindo o cronograma, a primeira reunião foi no dia 07 de março com a projeção do filme e a segunda será no dia 21 com a leitura prévia dos poemas. A mesa-redonda prevê desenvolver a temática das condições de produção e do conteúdo da obra a partir do olhar da mulher.
Entre o feminino e a arte
“Eu acho super interessante porque a Ana Carolina é uma mulher que começou a produzir o que ela chama de um cinema feito sob a condição feminina”. A pesquisadora em literatura e cinema, escritora, bailarina e também frequentadora constante dos debates, Mariana Anselmo, acredita que essas discussões sobre mulheres são importantes para “destacar” produções e perspectivas que passaram despercebidas. “[Obras que passaram] tendo menos importância, ou menos lugar nas mídias”.
Para Mariana, apesar do mês dedicado às mulheres ser “mais um mês da mulher”, acredita que o mês de março proporciona um olhar especial sobre pautas de lutas femininas por “um espaço que vem sendo conquistado”. Além da maior visibilidade sobre filmes, livros e poesias que não só são produzidas por protagonistas femininas, como também estreladas e representadas por elas.

“Eu danço literatura. Eu comecei a dançar literatura porque eu estava lendo literatura na faculdade” - Mariana Anselmo. Foto: Felipe Domingos
De acordo com Iolanda março é uma demarcação relevante. “O mês não é só uma data de comemoração, de celebração ou homenagem, não é só sobre o trabalho profissional e de cuidados, mas também dos trabalhos [femininos] nas artes e nas ciências”. Ana Carolina e Hilda Hilst foram duas artistas importantes das décadas de 80 e 90 no cinema e na arte, quebrando paradigmas de gênero, e por isso, as artistas foram escolhidas para ilustrar o mês de Março no “Entre Telas e Páginas”.
A história “Entre Telas e Páginas”
Iolanda, dois anos após se formar em Letras na UFU, em 2021, ingressou como funcionária na secretaria de cultura. A linguista viu uma oportunidade para trabalhar com a comunidade disseminando elementos culturais. A proximidade com a literatura e a vontade de passar adiante o hábito da leitura, fizeram com que ela tomasse a iniciativa de criar um projeto que pudesse prosperar o costume.
O projeto foi colocado em prática em 2022, e a ideia era criar um espaço onde o cinema e a literatura pudessem ser debatidos de maneira leve e simples. “Nosso objetivo não é ser uma conversa entre especialistas, de forma nenhuma. A gente quer atrair um público que às vezes lê pouco ou conhece pouca coisa, mas tem interesse”, diz a letrista.
A sala de cineteatro da Oficina Cultural foi uma oportunidade para o projeto expandir e adicionar o cinema como mais um alvo de suas discussões. Para tornar isso realidade, o professor Leonardo, professor de Letras, foi convidado a participar do "Entre Telas e Páginas". Segundo Iolanda, o convite veio por meio das aulas ministradas pelo próprio professor. “Fui aluna do Leo, a gente fez uma disciplina com ele e lembrava dele como esse professor que pesquisa cinema, que gosta de cinema. Levei a proposta e coincidentemente, ele já estava pensando no projeto da mesma forma”.

A Oficina Cultural foi fundada no início do século XX. Foto: Vítor Turolla
A arte já era disseminada em uma iniciativa semelhante. Em meio ao distanciamento social da pandemia, Leonardo transmitia filmes em seu Instagram que em seguida eram discutidos em reuniões no Google Meet. Passada a crise sanitária, com a possibilidade dos encontros presenciais, o professor decidiu reviver parte da cultura dos cinemas de rua junto de sua acessibilidade e diversidade.“Uberlândia tinha um punhado de cinemas aqui no Centro. Se a gente pegar fotos antigas da cidade, você tinha cinema na Afonso Pena”.
O projeto foi criado visando ampliar o acesso à cultura com debates que compartilham das experiências pessoais de quem entrou em contato com a obra. A tradição do cinema de rua leva junto de si, um legado de fácil acesso e para Leonardo, esses são os elementos mais escassos no cinema atual.“Eu ia ao cinema sempre. Quando eu era adolescente eu assisti um filme chamado Sociedade dos Poetas Mortos e eu estava com o dinheiro do ônibus, com o troco eu paguei o ingresso”.
O difícil alcance das produções se mostra visível quando os poemas “Cantares", de Hilda Hilst, são disponibilizados apenas mediante a compra e o filme “Sonho de Valsa", de Ana Carolina, se encontra somente no streaming (Looke). O “Entre Telas e Páginas”, possibilita o acesso a essas e outras obras para gerar o debate entre os participantes, ampliar a gama de repertório e trazer à tona a importância das artistas que passaram anos sem visibilidade.
O projeto tem cronograma definido para os próximos três meses, seguindo um calendário temático, que você pode acompanhar a seguir ou pela página do ILEEL.
Cronograma para os próximos meses:
Março
07/03/2024: Sonho de Valsa, de Ana Carolina
21/03/2024: Cantares, de Hilda Hilst
Abril
11/04/2024: Cães de aluguel, de Quentin Tarantino
25/04/2024: Matadores, de Marçal Aquino
Maio:
09/05/2024: Mamma Roma, de Pier Paolo Pasolini
23/05/2024: O calor das coisas, de Nélida Piñon
Junho:
13/06/2024: As horas, de Stephen Daldry
27/06/2024: Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf
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