Por Jhenifer Gonçalves
Roberto Araújo Camargo tinha 55 anos, trabalhava na metalúrgica da cidadezinha onde morava desde os dezessete anos. Tinha uma esposa charmosa, tímida e que adorava fazer crochê. Os dois frequentavam a igrejinha do bairro todo domingo, ajudavam na distribuição de cestas básicas que eram organizadas pelo pastor a cada 15 dias. Pode-se dizer que Roberto era bem querido, conhecido do pessoal do açougue, da mecânica e quando esperava pelo ônibus da empresa todo dia de manhã às 7h, cumprimentava ao menos cinco pessoas que iam comprar pães quentinhos da padaria ao lado. Mas bastou uma reunião em casa, coisa pequena, poucas pessoas. Era aniversário da Cida lá da igreja, compraram uma torta, encheram balões e enfeitaram a mesa com docinhos. No prazo de só três dias, Roberto não conseguia respirar mais, tossia, sentia os pulmões queimarem. Não puderam dizer o quanto ele era querido, que importava, que iam sentir sua falta.
E depois dele, fora a Graça de Souza, era vendedora de bolo no pote. Saía todo dia pra levar as quitandas na rodoviária, passava de mercado em mercado, conversava com todo mundo que via pela frente, mas era difícil falar com a máscara, suava demais. O contato com o dinheiro também dificultou, sabe-se lá quantas notas passavam pela mão da mulher todos os dias e ela sempre se esquecia de usar o maldito álcool em gel que deixava sua mão melecada e pegajosa. Tinha 35 anos quando morreu, na quarta-feira. A filha, não sabia o que fazer quando de repente, a mulher mais forte que conhecia, estava deitada estática em uma cama de hospital. Não pode vê-la, não pode ouvi-la falar pela milésima vez que deveria tomar cuidado, continuar na faculdade e terminar o namoro com o Pedro. Suas últimas palavras, assim como todo o resto que viria, fora roubado dela, da mãe e de muitos outros.
Depois da Graça, houve a Lilian, de 18 anos. Depois dela veio o Marcos, que fazia doutorado lá na PUC, tinha planos de passar as férias na Itália com o marido e a filha. E antes de todos, tiveram mais cinco, dez, trinta, centenas. Mas no fim, a gente espera, torce, vai dormir sonhando que depois deles, não haja mais nenhum.
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