Sucesso entre o público, a audiência dos reality shows cresce de maneira estrondosa e acarreta reflexões sociais
Por Vitoria Freitas
LabCacos
É inevitável ouvir as pessoas falarem sobre reality shows, principalmente nos tempos atuais, você, no mínimo, sabe o que é BBB ou A Fazenda. A questão é que, no Brasil, a cultura do entretenimento por parte desses programas já é antiga. Em 2000, a emissora de tv MTV foi a pioneira com o reality 20 e poucos anos. Depois deste, muitos outros surgiram.
Tem para todos os gostos, seja de culinária, desafios perigosos ou simplesmente ficar trancafiado com seus ex’s namorados em uma casa. O fato curioso é: se são shows da realidade, por quê fazem tamanho sucesso? A verdade é que os participantes são desafiados a viverem de maneira inusitada, com câmeras vigiando cada passo durante 24 horas e com provas que podem até mesmo arriscar a vida, como o programa No Limite, elaborado e exibido pela Rede Globo de Televisão.
O que pode explicar a audiência estrondosa desses programas é a crença do telespectador de que possui o direito de julgar quem está exibindo a vida para milhares de pessoas. Mesmo que os reality shows sejam roteirizados, os indivíduos que aceitam participar desses programas, mostram um lado vulnerável, choram, sorriem e enfurecem, tudo isso diante de um público com pedras nas mãos prontos para atacá-las. E isso foi vivenciado pela participante Karol Conká no Big Brother Brasil 2021.
A rapper brasileira de 35 anos foi vítima da chamada cultura do cancelamento. Em sua trajetória dentro do reality, Karol se envolveu em inúmeras brigas e fofocas, dentre elas, o que mais prejudicou a cantora foi sua relação com o participante Lucas Penteado, no qual, por diversas vezes, destilou palavras pesadas e humilhantes e, devido a isso, Lucas desistiu do programa.
Conhecida por ser militante e ativista em favor dos direitos humanos, Conká se mostrou desequilibrada emocionalmente para milhões de pessoas, agiu impulsivamente e atacou os participantes, tudo isso vai contra a mensagem que a rapper passa em suas canções, falando sobre igualdade e respeito, enquanto na vida real, maltratou verbal e psicologicamente um garoto preto da periferia que estava na busca de realização de um sonho: dar uma casa para sua mãe.
Com todas essas polêmicas, a artista bateu o recorde de rejeição no programa, saindo com 99,17% dos votos. Além disso, ela perdeu inúmeros seguidores em suas redes sociais, teve parcerias canceladas, era perseguida nas ruas e ameaçada de morte na internet.
Apesar de ter sido uma pessoa completamente tóxica e moralmente abusiva, Karol Conká não merecia ser cancelada, tampouco, deveria receber mensagens de cunho homicida, visto que, os internautas que a ameaçavam, possuíram uma atitude pior do que as da participante.
É fato que, os reality shows são um espetáculo de sentimentalismo e espontaneidade e, isso também explica o sucesso deles, é uma espécie de representatividade, o público se sente à vontade assistindo pessoas “reais” fazendo coisas do dia a dia de uma pessoa anônima, além de que, tais programas podem ser uma “fuga da realidade”, uma distração e alienação do telespectador, a chamada Indústria Cultural – conceito elaborado pelos filósofos Adorno e Horkheimer que consiste na sedução dos meios midiáticos perante a sociedade.
Segundo o antropólogo colombiano, Jesús Martín-Barbero, a televisão não se restringe apenas à comunicação, ela também é cultura. Vale ressaltar que, países da América Latina possuem como patrimônio cultural o cinema e o rádio. Sendo assim, é totalmente compreensível que os reality shows se tornaram uma “febre” entre a sociedade, visto que, também fazem parte da cultura do país como fonte de entretenimento.
O atrativo dos reality shows não são as câmeras vigiando os participantes por meses durante 24 horas, mas sim, de fato, a rotina de realidade. A realização das tarefas domésticas, os diálogos, romances e brigas são o espetáculo a ser apreciado pelo público, que se identifica ou não, mas que sente prazer em assistir, julgar ou se divertir. É entretenimento e cultura, é o show da vida.
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