A invasão Russa na Ucrânia
- Senso Incomum
- 12 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Uma análise da cobertura dos portais UOL, G1 e CNN BRASIL
Por Eric Borges e Sophia Assunção
O ponto de origem do conflito entre Rússia e Ucrânia se deu no modo como suas identidades se construíram após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Isto porque, após esse fim, as ex-repúblicas socialistas se tornaram países independentes, o que trouxe à tona diversos conflitos relacionados à divergência de interesses nos mais variados âmbitos. Nesse contexto, as antigas repúblicas passaram a enxergar a Rússia como sucessora da URSS, numa visão opressora.
As divergências de interesses entre os países são variadas, e permeiam questões territoriais, econômicas e militares e, por isso, é difícil formular uma hipótese que explique de fato o motivo da permanência do conflito entre ambos. Para Morrison (1993), o tratado de Pereyaslav (1654) demonstra na prática a relação entre os países (MIELNICZUK, 2006).
Os ucranianos o assinaram como um acordo mútuo de responsabilidades e, ao receberem proteção contra os poloneses, ofereceram lealdade ao czar. Já os russos o assinaram como uma espécie de anexação ucraniana em seu império. Ou seja, esse tratado demonstra aos ucranianos que a Rússia não é confiável e aos russos, demonstra uma união com seu vizinho inferior.
Já para Kuzio (2001), a crise que abrange os dois países é constituída através de um processo de disputa entre suas próprias elites. Segundo o autor, a elite russa não aceita a identidade ucraniana como país independente. Esse fator gera uma bipolarização entre aqueles que apoiam a vinculação ucraniana na Rússia e aqueles que defendem seu afastamento, o que dá origem ao conflito (MIELNICZUK, 2006).
Sob esse cenário, o que se nota é uma disputa de identidades, soberania e interesses que, indiretamente, já perdura por 31 anos, visto a ambição da Rússia em reintegrar o território ucraniano às suas fronteiras e administração. Tal fato passou a ganhar maiores proporções a partir de 2014, com a invasão e anexação da península da Crimeia (antigo território ucraniano) pela Rússia.
Essa movimentação, ocorrida há quase 10 anos atrás, permite identificar a supramencionada ambição do então presidente russo, Vladimir Putin, em retomar territórios estratégicos da URSS, assim como proporciona a compreensão sobre as motivações para a invasão do país à Ucrânia, em março de 2022.
A atual invasão é justificada pela aproximação da Ucrânia à OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte -, uma aliança militar coordenada por potências ocidentais, à lembrar dos Estados Unidos, opositora política e ideológica direta da Rússia desde os tempos de Guerra Fria (quando ainda da existência da URSS). O citado alinhamento foi compreendido pela Rússia como uma ameaça ocidental aos seus interesses, segurança e influência na região.
Mediante este cenário, serão analisadas notícias de três portais de notícia - UOL, G1 e CNN BRASIL -, a fim de analisar a repercussão midiática da invasão russa, ocorrida entre fevereiro e março de 2022, em que pese as diversas hipóteses sobre as reais motivações para o início do conflito pela Rússia.
Os portais acima foram escolhidos para a base deste texto, em decorrência das preocupações em trazer fontes especializadas na temática abordada, à exemplo de professores universitários de Relações Internacionais, capacitados para analisar as mais diversas variáveis e hipóteses que englobam o conflito, e na busca por fatos que permitam ao leitor formular suas próprias opiniões sobre o ocorrido. Além disso, tratam-se de veículos renomados da mídia brasileira.
Metodologia
A escolha do objeto de análise se deu devido a iminente devastação que o conflito tem gerado e por sua gravidade, além da forte cobertura midiática, visto que o tema é do interesse de toda a população mundial. A importância do tema para a pauta internacional se dá pela influência negativa deste nos mais variados tópicos das Relações Internacionais e entre os países, como: o comércio - principalmente o de combustíveis -, Direito Internacional e os Direitos Humanos, questões identitárias, de segurança e soberania e, por fim, as relações diplomáticas entre os países.
A metodologia utilizada consiste na análise de três matérias de diferentes portais sobre a temática, dividida em uma análise imagética, textual, de fontes e abordagens. Portanto, possui caráter qualitativo, visto que possui o intuito de realizar um aprofundamento científico sobre a temática.
Análise






Considerações Finais
A reportagem do portal UOL se baseia nos contextos que envolvem o conflito e utiliza da opinião de cinco especialistas convidados para desmembrar os posicionamentos tomados por países envolvidos no conflito, como os Estados Unidos e a China, bem como para explicar os motivos - diplomáticos, políticos e geográficos - para que a invasão russa ocorresse após o fim dos Jogos de Inverno, uma vez que, uma invasão durante estes, poderia repercutir de maneira negativa para a população e reduzir o apoio ao governo de Putin. Fato este que se demonstra contrário, na matéria do G1, já que o presidente russo, após a invasão, ganhou mais apoio.
A notícia do G1, por sua vez, é estruturada sob a dinâmica de 10 perguntas, a serem respondidas por também especialistas convidados. Os questionamentos permeiam dúvidas bastante repercutidas pela opinião pública nos últimos dias, como: “Há risco de uma terceira guerra mundial?” e “Quais as chances de o conflito se transformar em disputa nuclear?”, que refletem os principais temores das populações mundiais em relação à invasão.
Por fim, a matéria da CNN BRASIL traz a notícia sobre a guerra com uma abordagem voltada para a questão humanitária, apresentando dados sobre civis deslocados, bem como número de civis mortos e feridos, a fim de escancarar as atrocidades que um mês de guerra já fora capaz de proporcionar.
Em conclusão, apesar de abordagens e estruturações diferentes, as reportagens se posicionam de maneira contrária ao conflito, esclarecendo as consequências que o conflito traz para a população ucraniana e para a comunidade internacional. As matérias são capazes, ainda, de expor as repercussões negativas da invasão russa em fóruns e Organizações Internacionais, na postura de líderes de Estado e para a opinião pública em geral.
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