Por Daniele Lopes Ferreira
Pet Conexões
Ao iniciar esse artigo sinto que o construí no formato errado. A aspiração da autora é convidar todes que lêem essas palavras a se permitir ser afetado pelas palavras aqui escritas, que elas toquem seu coração. Acredito que isso surtiria mais efeito em forma de poema, mas, cá estamos com o convite feito. Vivemos em um período em que as opressões se tornam parte do cotidiano, de tal forma que nos anestesiamos frente às injustiças. Espero que a leitura desperte sentimentos que, por diversas razões, tentamos adormecer.
Essa ideia veio especialmente após a palestra de um dos organizadores do movimento conhecido como Entregadores Antifascistas, Paulo Galo, ministrada na UFU em junho de 2022. Ele dizia da necessidade de falar com as pessoas sobre as opressões do dia-a-dia de forma que toque o coração, pois aí sim estaríamos plantando a semente da mudança. Imersos em um mundo com tantos estímulos e informações, muitas vezes não paramos para sentir. Consideramos que argumentos solidamente construídos e evidências bastam para nos relacionar.
Mas, apenas de meras informações se sustenta o verdadeiro diálogo? Onde vai parar nossa humanidade diante da negação da sensibilidade? Acredito que, além dos poemas, as perguntas trazem em si a potência de estranhar esse cotidiano maçante. E estranhar é, com toda a certeza, uma das nossas armas para não permitir que naturalizemos o roubo constante da nossa humanidade.
Tudo o que foi falado acima não funciona apenas para as relações interpessoais. Quem pretende ser um comunicador popular ou então promover um trabalho guiado pelos princípios da Educomunicação, precisa compreender a profundidade das relações estabelecidas ao longo do contato entre quem comunica e o que se comunica e quem recebe o que foi anunciado. Em tempos de ódio e desumanização, reivindicar o diálogo em termos freireanos para promover a comunicação que toque os corações, é fundamental!
E aqui não estamos falando de sensacionalismo, mas de não considerar as pessoas como mero depósito de informações. O geógrafo anarquista Kropotkin tem uma categoria interessante para pensarmos isso. Ele fala da ajuda mútua, que se refere ao poder da sociabilidade e da solidariedade humanas como elementos fundamentais para o acesso ao conhecimento produzido e acumulado pela humanidade, em todas as suas dimensões, mesmo sob as condições alienadas impostas pelo capitalismo.
Mesmo que pareça só mais uma conversinha tilelê, acredito que esse é o elemento básico para que comunicadoras e comunicadores, bem como educomunicadores contribuam para organizar a luta contra toda a barbárie que nos foi imposta. A sensibilidade é o que nos permite ficar incomodades com o fato de que a fome e a vulnerabilidade social cresceram assustadoramente, enquanto o Brasil ganhou dez novos bilionários. Ou então se revoltar com o fato do nosso país encabeçar a lista das nações que mais matam travestis e transexuais. São muitas as opressões, e elas precisam ser tratadas com a seriedade e o respeito necessários.
Talvez, nos sintamos desolados ao sentir em nossas próprias carnes as dores sofridas tanto por nós, quanto por outres. E é bom lembrar que não estamos sozinhes! O processo de sentir traz muitas angústias sim, mas saiba que da mesma forma que as mazelas são produzidas socialmente, a luta contra elas também o é. Fica aqui um último convite a educadoras, educadores comunicadores, comunicadoras e a quem se pretenda ser um agente de mudanças: tentar incluir em suas pautas elementos que acolham essas dores e contribuam para que as pessoas se mobilizem para lutar contra elas.
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