Por Josias Ribeiro
Blog 4Estações
E lá vamos nós mais uma vez! Como de costume, mais uma premiação se mostra indiferente para determinados artistas que, por incrível que pareça, se dedicam o ano todo em seus projetos. Todas as edições do Prêmio Multishow que aconteceram nos últimos anos repercutiram por causa de algumas indicações e a falta de outras. A situação se tornou ainda pior após a criação da ‘Academia Prêmio Multishow’, que substituiu o lugar do público na sugestão dos nomes indicados para concorrer ao voto popular.
O Prêmio Multishow de Música Brasileira é descrito como a maior premiação da música brasileira e é conhecido, principalmente, por premiar os melhores artistas do ano. Em 2021, tivemos nomes marcantes como Ludmila, Gloria Groove e Duda Beat, fora das indicações de ‘Cantora e Cantor do Ano’. É preciso deixar claro que Ludmilla foi indicada na categoria ‘Hit do Ano’, com a música Deixa de Onda, que é apenas uma participação e nada mais.
Me questiono: como a cantora possui um dos maiores hits do ano e ainda assim não merece ser indicada em melhor cantora? Quais as características e descrições necessárias para estar incluso nesta categoria?
Desde sua vitória em 2019, que curiosamente, foi motivo de polêmica, Ludmilla não é mais indicada na categoria. Por outro lado, algumas nomeações levantaram questionamentos do público, afinal, os nomeados precisam ter tido destaque durante o ano para serem indicados?
O intuito desse texto não é desmerecer ou rebaixar qualquer uma das cantoras que foram indicadas ao prêmio, mas, ao dar uma olhada rápida na lista, é possível perceber alguns nomes presentes que não marcaram tanto o cenário musical no último ano. Sendo assim, novamente questiono: quais os quesitos que estão sendo avaliados para determinados artistas estarem todos os anos indicados mesmo sem terem tido destaque?
Recentemente, levantei alguns pontos da xenofobia no Grammy Latino e, em outras matérias do 4Estações, citamos a inconsistência de algumas nomeações em premiações internacionais, mas um ponto que difere a escolha dos indicados de lá para os do Brasil, é que pelo menos eles sabem reconhecer os artistas que impactaram as paradas de sucesso. Ainda assim existe a exclusão de alguns, porém um dos requisitos mínimos de uma premiação que é descrita por premiar “os melhores do ano” é realizado, que é de fato a indicação de músicos que foram destaques.
Confesso que me surpreendi com a resposta do prêmio nas redes sociais à manifestação de Ludmilla, que desabafou após a falta da indicação nessa categoria, mostrando suas inúmeras conquistas ao decorrer do ano, além de se recusar formalmente ao convite feito pela premiação para que ela se apresentasse. Acreditei que não se manifestariam, mas, para minha surpresa, se mostraram abertos a diversificar a bancada e reconheceram que ainda têm muito para melhorar. Torço que realmente coloquem em prática tais palavras e não fiquem apenas no papel como geralmente acontece em eventos do gênero.
Ludmilla além de ser uma mulher preta, canta um ritmo que ainda é bastante criminalizado no nosso país e situações como essa não são difíceis de se encontrar com artistas similares. Sua indignação e coragem de se pronunciar nas redes sociais contra a edição do prêmio precisa ser louvável, pois tal manifestação não impacta somente sua realidade, mas sim de inúmeros artistas pretos que não conseguem esse espaço com a mesma facilidade daqueles que estão presente todos os anos, mesmo sem ter tido a mínima relevância e impacto nas paradas.
Que esse apelo da artista sirva de lição e modifique a realidade que estamos inseridos, onde a discriminação e os privilégios por causa de raça, gênero ou orientação sexual ainda se mostram tão presentes quando o debate envolve “reconhecimento e mérito”.
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