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Call of Duty e a venda da propaganda pró-guerra

A franquia de jogos de guerra domina o mercado dos FPSs, mas a cada nova entrada no seu vasto catálogo fica mais evidente a sua agenda pró imperialista



Por Felipe B.


Foto 1: Dois soldados opostos posam na capa de Call of duty Cold War. Fonte: Globo esporte

Call of Duty chegou ao cenário gamer em 2003, um novo tipo de jogo que usou e poliu as mecânicas de Quake e Doom, ambientado no lado dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Desse lançamento surgiu uma das maiores franquias dos games. A cada sequência a ambientação e o gameplay se alteram, mas o que se mantém em todas histórias contadas pelos CODs é uma fetichização da guerra e da força militar americana, difundindo o discurso imperialista desse órgão americano.


Da Guerra do Golfo às potenciais guerras espaciais, os jogos usam conflitos históricos como reafirmações para discursos pró imperialistas e patrióticos. Em Call of Duty se segue, comumente, um soldado americano e seu esquadrão que têm que derrubar líderes tirânicos em outros países e terras.


O problema não está na narrativa, mas na forma em que os CODs vendem seu discurso. No desenvolvimento de suas obras, as desenvolvedoras da franquia sempre adotam uma visão extremamente patriótica com relação aos EUA, e transformam seus inimigos em caricaturas.


Foto 2: Um dos vilões dos jogos ameaça o protagonista. Fonte: PCGamesN

Sanguinários, frios e sem consideração ao bem estar humano. Essa é a caracterização dos vilões de COD, muitas vezes de etnicidade russa, asiática ou latina, pintados como terroristas sem razão e inimigos da liberdade. Esses vilões são usados mais e mais predominantemente na história conforme ela avança com ações cada vez mais cruéis e desafiadoras para o exército americano.


Em uma narrativa tradicional, gerar ódio e desdém para com o vilão é algo necessário e comum, mas o discurso dos Call of Dutys não são tradicionais. Os games seguem uma narrativa histórica com elementos fictícios , conseguintes quando se aborda temas de guerras reais e os pinta de forma monocromática, criando uma dissonância narrativa.


Ao usar da figura de um árabe como um vilão cruel, calculista e frio nas adaptações dos jogos que cobrem as invasões ao Iraque, a franquia aumenta e fortalece o preconceito e o medo que se propagam na cultura ocidental para com as pessoas do Oriente Médio. Essa forma de abordagem unilateral é proposital e usada dentro do próprio complexo militar americano.


Foto 3: Um kit em apreciação do mês militar à venda no jogo Call Of Duty Warzone. Fonte: USA Today

Quando o game desassocia o jogador das questões morais nas invasões e lutas pelo domínio de terras muito além das suas, cria-se um ambiente onde o ato de violência e de justiça unilateral se tornam catárticos. A ideia de um vilão único é perfeita para resolver todos os problemas e questões sobre as políticas da região, as diferenças culturais e as implicações morais, afinal, a invasão é para derrubar essa figura tirânica. Essa forma de abordagem é usada pelos EUA desde a Segunda Guerra, a famosa propaganda militar. Essa propaganda está tão alinhada com as estruturas desses jogos que o próprio órgão militar recebe homenagens dentro dos games.


Quando juntamos essa narrativa, a forma fetichizada que o jogo apresenta o poderio militar e a vanglória da violência, nota-se claramente uma tentativa de dessensibilizar os jogadores e, subsequentemente, entregar a eles a mesma agenda que os militares adotam. As conexões não se mantêm só nesses níveis apresentados, é inegável as relações entre a franquia de games e o conglomerado de combate americano. Com isso em mente, só se torna mais preocupante como esses jogos permanecem populares.


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