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Corte de verba do governo federal afeta comunidade da UFU

Atualizado: 18 de mar. de 2021

Além dos alunos, áreas mais afetadas foram limpeza, transporte e segurança


Josias Ribeiro e Matheus Rabelo


Os funcionários do setor de limpeza da UFU foram dispensados em abril. Foto: Anna Júlia Lopes

Apesar da recente liberação do Ministério da Educação (MEC) de R$ 1,1 bilhão para as universidades e institutos federais, anunciada no dia 18 de outubro, para atender o orçamento discricionário, como água e luz, a verba não contemplou os cortes anteriores, referentes a salários. Nos últimos meses, funcionários terceirizados e alunos foram prejudicados e ainda encontram-se sem bolsas e empregos.

“Vim de Pernambuco justamente à procura de serviço, porque lá não tem emprego. Faz três anos e cinco meses que eu estou na empresa. Quando descobri [a demissão] foi um baque pra mim”, desabafa Marilene Crispin. Ela é uma dos 120 funcionários do setor de serviço de limpeza de todos os campi da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) dispensados, após a execução do corte de verbas de 30% nas universidades pelo governo federal, no último dia 30 de abril, segundo o relatório enviado pelo Departamento de Logística da UFU à equipe de reportagem do Senso Incomum.


Quantidade de funcionários dispensados em cada setor. Infográfico: Matheus Rabelo


Casada e mãe três filhos estudantes, a ex- funcionária do Arq.Serviços - companhia de limpeza e conservação, com trabalhos de mão de obra especializada, portaria e jardinagem - relata como o corte afetou e trouxe incertezas para o futuro da família.

Crispin assume que foi um ‘choque duplo’ receber a notícia, pois a irmã também foi demitida. Em tom de desabafo, ela diz que a situação ficará ainda mais difícil, pois não voltará para a sua cidade devido à falta de serviço, além dos três filhos. Os custos de vida são altos para a sua renda, visto que paga aluguel. “Seja o que Deus quiser, né?”.

De acordo ela, uma das justificativas dadas pela empresa foi que a UFU realizou corte, devido ao contingenciamento feito pelo Ministério da Educação (MEC). Apesar de o Arq.Serviços se negar a cortar 30%, segundo Crispin, houve uma seleção de pessoas: “Só de quem conheço, foram mais de 20 demitidos”.

Em nota divulgada no dia 06 de maio pelo portal Comunica UFU, o reitor da instituição, Valder Steffen Júnior, apresentou os primeiros pontos atingidos pelo corte: “Serviços de apoio, como vigilância, limpeza, recepção, transporte e reformas sofrerão sério impacto. Isso significa que as consequências devem atingir também a empresas prestadoras de serviços especializados à nossa instituição”.

Para a ex-funcionária, a possibilidade da universidade se manter durante os próximos anos é questionável. “A UFU precisa muitos para se manter. São muitos blocos, muita sujeira nas salas de aula. Os trabalhadores que ficaram não conseguirão conservar a limpeza”, enfatiza.


Alunos afetados


O corte também afeta diretamente os alunos mais carentes que necessitam de bolsas e ajuda para se manter, o que foi reforçado pela fala do reitor: “Caso os cortes atinjam a assistência estudantil, as consequências de caráter social sobre nossos estudantes com vulnerabilidade econômica são tremendas, impedindo-os de prosseguirem seus estudos.”

Com a redução, os transportes de intercampi foram diminuídos. Por causa da demissão de 16 funcionários, a quilometragem das viagens e idas a congressos e eventos acadêmicos foram limitadas.

Cerca de 70% dos alunos deixaram de ser atendidos pelo intercampi, como o caso do estudante de Medicina , Júnior Rodrigues, de 20 anos “Com a redução dos intercampi, comecei a utilizar os ônibus coletivos normais. [Isso] significa, para mim, maior custo financeiro e mais tempo ‘gasto’ com o transporte até a faculdade”. Ele ainda conta que seu rendimento acadêmico foi prejudicado, diminuindo o tempo de sono por causa da necessidade de pegar ônibus de manhã.


Entenda o contexto


A Lei Orçamentária Anual (LOA) determina em quais ramos os orçamentos das universidades serão direcionados. Um dos ramos que possuem verbas obrigatórias corresponde a de Pessoal e Encargos Sociais (PES). Só essa seção consome 82% do valor que é repassado a instituição.

No ano de 2019, a UFU recebeu um orçamento de R$ 1,07 bilhões. O PES consome R$ 924 milhões, restando R$ 147 milhões para outros recursos. Os indivíduos incluídos na folha de pagamento do PES são os professores e demais membros das diretorias, aposentados e gastos previdenciários. O restante do dinheiro é destinado aos recursos administrados pela UFU, que estão relacionados à manutenção e investimento em obras e novos equipamentos. Sendo nessa seção que ocorreu o corte pelo MEC.

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