Entrevista com a psicóloga Maria Elias
Por Milena Félix
A sexualidade é uma das características primárias dos seres sexuados e, especialmente, dos seres humanos. Ter uma sexualidade equilibrada faz parte do conceito de saúde, englobando questões físicas e psicológicas. No entanto, na nossa sociedade, esse conceito ainda é um tabu e gera repressão e opressão -- principalmente sobre as mulheres. É por isso que, hoje, nós entrevistamos a professora universitária e psicóloga Marisa Elias sobre a opressão sexual sofrida pelas mulheres. Marisa atua no Núcleo de Atenção Integral às Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas) do Hospital de Clínias da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
Marisa, qual é a importância de uma sexualidade livre para as pessoas?
A sexualidade é a manifestação do desejo sexual e do instinto, que é parte da constituição do organismo humano. Sendo assim, ela é importante porque representa poder viver os seus desejos dentro do que é possível na sociedade, e manifestando uma saúde física e mental.
Como a violência contra a mulher pode ser intensificada a partir da violência sexual?
A violência sexual é um tipo de violência contra a mulher. E ela talvez seja a expressão máxima de tentativa de controle e domínio sobre o corpo feminino. Por isso que ela é, talvez, mais grave. Ela não afeta apenas o físico, o corpo, mas também a degradação e a humilhação da pessoa.
Como atrelar sujeira às coisas de mulher pode fazer com que as mulheres tenham autoestima mais baixa?
Na verdade, é toda uma produção de sentido que faz com que a mulher se desconecte do seu próprio corpo e da própria sexualidade. Começa lá na infância, quando as meninas não têm autorização ou permissão para tocar os próprios genitais. Até mesmo a higienização fica comprometida. Porque aprendeu desde cedo “não põe a mão aí, não põe a mão aí que é feio, isso não é coisa de menina”, como se a masturbação não fosse coisa de menina, tocar o próprio corpo não fosse coisa de menina -- menina não, de mulher
Por que existe o fetiche da dominação? E como isso impacta nas crenças das mulheres sobre si mesmas?
O desejo da dominação é algo que é humano, de homens e mulheres. Porém, a sociedade e cultura desenvolvem estratégias que fazem com que as mulheres ocultem o seu desejo de dominação, reprimam o seu desejo de dominação, e acabem criando uma relação, às vezes, com a figura masculina, de submissão.
Como sair da dominação? Métodos contraceptivos podem contribuir para isso?
Os métodos contraceptivos são uma grande vitória para as mulheres terem controle sobre o próprio corpo, domínio sobre o próprio corpo, e decidir o momento ou a hora de ter um filho, ou se vão ter um filho. E então, nesse sentido, eles têm um papel muito importante de não deixar na mão do outro, a decisão ou mesmo o risco de uma gestação não desejada.
Ouça a entrevista na forma de podcast:
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