Por Josias Ribeiro
Blog 4Estações
Faz um bom tempo que a Academia Latina de Gravação, organizadora do Grammy Latino, se envolve em polêmicas no que diz respeito aos indicados às categorias principais da premiação, que, de certa forma, possuem mais relevância diante as demais categorias. Essas atitudes inconstantes e incompreendidas, tanto pelo público quanto pela crítica, vêm tomando maior destaque do que a própria entrega dos prêmios.
Não é preciso buscar muito longe. A última edição do Grammy (versão americana), foi totalmente boicotada e teve um grande número de comentários negativos do público quando viram que o artista que teve a maior música do último ano, de acordo com as principais paradas de sucesso, não recebeu uma indicação em nenhuma das categorias. The Weeknd, revelou o porquê da não indicação: além de acusar em suas redes sociais a premiação de corrupta, fontes próximas ao cantor afirmam que a academia só o indicaria se ele negasse participar do Halftime Show do Super Bowl, que ocorre na final do campeonato de futebol americano. Além disso, o cantor afirmou que nunca mais submeterá nenhum trabalho à bancada. Pautas que discutem a relevância e honestidade dos avaliadores são levantadas todos os anos e, na maioria das vezes, artistas negros e latinos sofrem tal exclusão.
A versão latina não se distancia da versão americana. Em mais uma edição, continua a tradição de não valorizar os trabalhos nacionais em outras categorias que não sejam específicas da música brasileira. As edições vão passando e a bancada continua mantendo o mesmo ritmo, selecionando um ou dois artistas para concorrer em uma das categorias principais, mesmo os cantores nacionais tendo entregue trabalhos aclamados e de alta qualidade.
Para se ter uma visão panorâmica das participações brasileiras nas vitórias das principais categorias, como “Álbum do ano”, “Música do ano” e “Canção do ano”, o Brasil possui apenas uma, de Ivan Lins em 2005 com o álbum Cantando Histórias. Esse dado só comprova a dificuldade da academia em reconhecer os trabalhos brasileiros, mesmo sendo descrita como uma premiação voltada à cultura latino-americana.
Além disso, quase 90% das indicações nas categorias principais se devem a músicas MPB, enquanto os outros gêneros ficam restritos a categorias específicas, e outros, como funk e forró, não se encaixam em nenhuma dessas. Observando ainda outras categorias como “Vídeo do Ano”, a coisa é ainda mais frustrante quando se analisa a evolução do cenário audiovisual brasileiro. Ver que nomes como Duda Beat, Anitta, Pabllo Vittar e Iza não receberam reconhecimento com seus últimos videoclipes é motivo para se questionar a relevância da premiação e sua credibilidade na indústria fonográfica brasileira.
Este ano, ainda foi discutido o machismo da bancada, devido as poucas indicações de cantoras femininas. Destaque para Karol G, que se tornou um dos maiores nomes latinos dos últimos anos, com hits elegíveis como Bichota, que, mesmo não sendo critério de nomeação, já possui mais de 876 milhões de visualizações e foi uma das músicas latinas mais tocadas mundialmente.
Pelo visto, ser preto, mulher, LGBT ou brasileiro, se tornou um dos critérios para não ser nomeado na “maior premiação da música latina”. Há anos o Grammy, tanto latino quanto americano, vem sendo questionado sobre sua relevância e os critérios utilizados para que trabalhos sejam indicados. Tendo em vista o avanço que a música brasileira teve nos últimos anos e a entrega de trabalhos de excelente qualidade, que não foram reconhecidos pela bancada, é preciso se questionar se ainda é positivo e orgulhoso receber tal prêmio.
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