top of page

Imprensa Feminina: dois séculos de enquadramentos prescritivos do ser mulher


Por Clara de Castro Braga

Do Narra – Grupo de Pesquisa em Narrativa, Cultura e Temporalidade


Foi com a chegada da família real portuguesa no país durante o século XIX que surgiu a Imprensa no Brasil, e durante a mesma época também houve o surgimento da Imprensa Feminina no Brasil. Aos modos de países europeus, revistas brasileiras começaram a investir em conteúdos voltados às mulheres com temas moda, literatura, artes e educação.


Não é de grande surpresa constatar que as produções femininas naquela época fossem pensadas para mulheres de classe alta e com conteúdos que abordassem temas que se encaixassem nas expectativas sociais para esse público. Ao tratar sobre temas como moda, literatura, artes e educação o que se esperava é que as mulheres estivessem sempre bem polidas, arrumadas, com vestimentas apropriadas, que fossem cultas e educadas.


Mas será que esse tipo de conteúdo ficou somente no século XIX? Após um pulo de dois séculos na história, as revistas brasileiras ainda seguem um roteiro muito parecido sobre o que se veicular dentro das produções para o público feminino. Nomes como Claudia, Marie Claire, Vogue, Glamour seguem tendo como seus temas principais moda, beleza, estilo de vida, casa & cozinha.


Durante o passar dos tempos, mesmo com o aumento no percentual de pessoas alfabetizadas na sociedade, revistas ainda seguem sendo algo majoritariamente consumido pela classe média. Desta forma, por mais que atualmente os grandes nomes da imprensa feminina abordem tópicos além de como ser uma esposa e mãe ideal ou como se portar frente à sociedade, as produções que seguem abordando tais conteúdos e são acessíveis -financeiramente falando- para mulheres pobres seguem reforçando este único padrão do ser mulher. Portanto, a independência e os demais assuntos fora do universo casamento e casa acabam restritos a mulheres de classe média, acima dos 30, com graduação e trabalhando fora de casa.


A atuação da mulher na imprensa brasileira ainda sofre em certos veículos de mídia. Segundo uma pesquisa do Work (plataforma de comunicação corporativa desenvolvida pelo Comunique-se), 15.654 mulheres jornalistas estão empregadas em veículos de comunicação, representando apenas 36,98% do mercado de imprensa no país e tendo uma diferença de mais de 10 mil em comparação com o número de empregos ativos para jornalistas homens. Nos postos de liderança também representam menos da metade, sendo 32,18%. Além de serem minoria como proprietárias de órgãos de comunicação social: 215 X 645 homens. Não há como se discutir o que é produzido para mulheres na imprensa feminina quando as representações dentro da imprensa como um todo são pequenas também. É necessário que haja uma quantidade suficiente de mulheres plurais na produção da imprensa para que haja conteúdos plurais sendo veiculados.


No ano de 2020 e pela primeira vez na história, as revistas femininas do Brasil se uniram em uma ação digital contra a violência doméstica durante o mês da mulher. A ação #JuntoxsSomosMaisFortes visou incentivar doações para ONGs que ajudam mulheres em situações de violência por meio de mobilizações nas redes das editoras Vogue, Glamour, Marie Claire, Ela, Crescer, Claudia e L’Officiel. Assim, apesar de termos avançado bastante nas discussões sobre gênero, será que nossas produções midiáticas para o público feminino estão preparadas para terem como temas principais outros que não apenas “como se portar”, “como se vestir”, “como arrumar a sua casa” ...como seguir um padrão ideal do ser mulher?


***

Esse texto foi feito em conexão com o projeto de extensão do Narra no Instagram. Para conhecer os conteúdos do projeto, acesse o perfil. E para saber mais sobre o grupo, acesse o site.


0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page