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Minissérie da Netflix humaniza Elize Matsunaga e recorda o Caso Yoki

Documentário traz à tona o caso de maneira explicativa e factual


Por Isabella Breve

Em 19 de maio de 2012, Elize Araújo Kitano Matsunaga matou e esquartejou o marido, Marcos Kitano Matsunaga, diretor da Yoki Alimentos. O caso foi julgado em 2016, quando Elize foi condenada à pena de 19 anos e 11 meses em regime fechado.



A minissérie documental Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime chegou na Netflix na última quinta-feira (8), sob a direção de Eliza Capai. A produção conta com quatro episódios, nos quais a responsável pelo assassinato do marido fala acerca do caso pela primeira vez.


Elize durante as gravações para a minissérie documental. Foto: Divulgação/Netflix

As "saidinhas"


A primeira vez que as câmeras captaram Elize foi na sua primeira saída no regime semiaberto, em 2019. As “saidinhas” são sempre motivo de sensacionalismo midiático. Quem nunca se deparou com a manchete “A menina que matou os pais sai da cadeia no dia das mães” - essa se referindo a detenta Suzane Von Richthofen, condenada pelo assassinato dos pais.


A Lei de Execução Penal 7.210/84, prevê que "têm direito à saída temporária o preso que cumpre pena em regime semiaberto, que até a data da saída tenha cumprido um sexto da pena total se for primário, ou um quarto se for reincidente. Tem que ter boa conduta carcerária, pois o juiz, antes de conceder a saída temporária, consulta os Diretores do Presídio.”


As datas estipuladas para as saídas são: Natal/Ano Novo, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais e Finados, sendo que cada uma pode ter a duração de sete dias. O preso que tiver bom comportamento pode pedir permissão para estudar. Se ocorrer algum atraso na volta, o preso perde o direito à saída temporária. Leia mais sobre clicando aqui.


Elize Matsunaga, do mesmo modo que Suzane Von Richthofen, se encontra no regime semiaberto e por isso detém o direito das saídas temporárias.

Elize Matsunaga na sua primeira saída temporária em 2019. Foto: Poliana Casemiro/G1

O documentário


A entrevista com Elize foi negociada pelo período de um ano e meio e teve uma tentativa de impedimento por parte dos pais de Marcos Matsunaga. Em maio de 2019, a entrevista foi autorizada judicialmente.


O documentário reúne materiais divulgados na época do crime com adição de novas gravações especificamente para a produção. Dentre esses, contam entrevistas com os advogados de defesa, entrevista com o promotor do caso, reportagens da época do ocorrido e gravações do julgamento.


A série consegue construir uma timeline do assassinato e da vida do casal Matsunaga através dos vieses do lado da defesa e da acusação, porém pende para a humanização da figura de Elize. É por meio das palavras dela que conhecemos a sua trajetória, desde a infância até o presente momento.


Diferente de muitas produções de true crime que não possuem as falas do próprio responsável pelo crime, aqui a figura central conta acerca do abuso que sofreu na infância e do casamento com o empresário.


Amigos e familiares tentam construir a imagem benéfica de Marcos Matsunaga, entretanto, diversos acontecimentos são trazidos à tona que fazem com que o mesmo perca o papel de mocinho. Elize afirma que sofria abuso psicológico por parte do marido, que sempre humilhava sua origem humilde e seu passado como garota de programa.


É claro que houve muito machismo por parte dos amigos, família e até mesmo do promotor do caso, assim como da imprensa que noticiou tudo de uma forma sensacionalista na época do ocorrido. Estamos acostumados a ver o papel invertido neste tipo de história, em que o homem mata a mulher. É evidente a forma pela qual Elize foi transformada diante dessas pessoas. Por outro lado, a produção parece querer justificar tal crime apresentando um passado sofrido.


Os amigos e a família de Marcos a todo momento usam o dinheiro e as oportunidades que o empresário tinha como uma grande chance que Elize teve de sair de sua origem humilde e da vida de garota de programa, logo a mesma não teria do que reclamar em relação ao marido. Eles definiam a vida dela como “de princesa”.


As falas de Elize aparentam terem sido milimetricamente planejadas, já que ela nunca havia cedido nenhuma entrevista. Elize justifica esse documentário como uma forma de poder se explicar para a filha, já que não a vê desde o ocorrido. A criança hoje está sob a tutela da família do pai. Ainda neste ano, Elize foi à justiça tentar um pedido para rever a filha que teve com o empresário, entretanto os avós continuam brigando pela guarda da neta.


Muitas questões são deixadas de lado pelo documentário, como a situação da babá da criança na noite do ocorrido. Em uma matéria publicada pelo G1 na época do julgamento, a babá afirma que Elize comprou uma serra elétrica na véspera do crime. Essa informação não é trazida no documentário, assim como o paradeiro da babá.


O casal tinha um arsenal de armas no apartamento. A atividade de caça era comum entre ambos. Foto: Divulgação/Netflix

Dúvidas que jamais serão respondidas


A produção traz muitos meios que foram explorados durante a investigação do caso, como se o crime foi premeditado ou não. Também foi explorado se havia alguém atuando ao lado de Elize e a forma pela qual o corpo foi esquartejado.


É evidente que o documentário aproxima Elize dos telespectadores, já que essa fala diretamente com esses, que ficam curiosos para ouvir sua palavra. A minissérie humaniza a personagem, de modo que essa pôde contar a sua história, regada a abusos, prostituição e sofrimento ao lado do marido.


Apesar de ser a entrevistada e o grande fio condutor da minissérie, Elize não responde o motivo do crime e nem dá grandes detalhes sobre o esquartejamento e o dia do ocorrido.


É evidente também que o caso teve essa grande repercussão por se tratar do herdeiro da Yoki Alimentos, que na época estava sendo vendida para a General Mills por dois bilhões de reais.


Muitas dúvidas acerca do caso provavelmente nunca serão esclarecidas. Um grande breu existe em diversos pontos do crime. O que sabemos é que a repercussão foi imensa, o que torna impossível não perguntar, se no lugar da figura de Elize e Marcos Matsunaga estivessem indivíduos em situações de vulnerabilidade social e esquecimento perante a sociedade, o crime teria a mesma repercussão e preocupação? Eis a reflexão!


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