Por Milena Félix
Sinestesia
Como é que eu vim parar aqui,
caro leitor?
Por que é que eu faço o que eu faço
e escrevo o que eu escrevo?
Você se pergunta, ao ler minhas entrelinhas,
o que é que motiva meus textos.
Você se inquieta pensando
que estou me expondo demais.
Eu me perco em questões existenciais profundas
sobre o poder de cura
que as palavras têm.
Mas a verdade é
que eu escrevo
não com as mãos,
mas com o útero e os seios.
Porque é ser mulher
que me faz estar aqui.
Se eu não fosse mulher,
não acumularia as experiências que me motivam
a rasgar o papel
com palavras sobre o real.
Se eu não fosse mulher,
não teria vivido o abuso sobre o meu ser
de maneira tão vívida
a ponto
de saber falar sobre ele.
Se eu não fosse mulher,
não teria tanto amor por minhas irmãs,
a ponto de querer que nenhuma mais sofra.
E, se eu não fosse mulher,
eu não sentiria as coisas
da maneira tão devastadora
que sinto.
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