Incrivelmente, a torcida brasileira reconheceu atletas que se superaram e fizeram história, mesmo sem ganhar a medalha. Este é o verdadeiro espírito olímpico, e os resultados históricos devem ser ressaltados
Por Pedro Bueno
LabCacos
Os Jogos Olímpicos de Tóquio se encerraram no último domingo, 8 de agosto de 2021, e o sentimento que fica é a saudade do que vivemos nos últimos 15 dias. Em meio a tantos problemas ao redor do mundo, as Olimpíadas provocaram uma alienação positiva no Brasil, e o esporte reacendeu o amor ao país que muitos haviam - com razão - esquecido por vários motivos. Enfim, o brasileiro se viu como brasileiro em Tóquio, vibrou ao ver a sua bandeira, cantou o hino e esqueceu a apropriação nacionalista, que prejudica o amor à pátria.
O contexto cheio de problemas, e o adiamento da Olimpíada de 2020 para o ano seguinte foram motivados por uma questão: a pandemia do coronavírus. O vírus que tomou conta do mundo nos últimos 20 meses foi o tema central dos últimos debates e o esporte foi uma ferramenta importante para nos aliviar de todas estas questões prejudiciais à vida. Uma “alienação” com lindas histórias foi a salvação de 2021.
Além de ser um respiro para tantos problemas, os Jogos Olímpicos deste ano ficaram marcados pela melhor participação da história do Brasil: foram 21 medalhas - número jamais alcançado -, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze, ficando com a 12ª posição, a melhor posição geral do país na história das Olimpíadas.
Algumas histórias protagonizadas por Rebeca Andrade, a grande atleta brasileira nesta Olimpíada, Rayssa Leal, Ítalo Ferreira, Alisson dos Santos, o Piu, Mayra Aguiar, e tantos outros medalhistas, já foram contadas. Por isso, vamos destacar os feitos históricos realizados no Japão, que não receberam medalha, mas o espírito esportivo e olímpico indica que não são só os vencedores que devem ser valorizados.
Reconhecimento dos brasileiros
Antes de destacar feitos individuais de alguns atletas que deixaram o Japão sem medalha, é importante elogiar o posicionamento de boa parte dos torcedores brasileiros. A cultura resultadista é vista no futebol e foi observada nos outros esportes olímpicos nas últimas Olimpíadas, onde apenas os medalhistas eram valorizados e, principalmente, quem ganhava o ouro. Felizmente, a frase que o 2º lugar é apenas o melhor dos últimos foi deixada de lado pelos telespectadores brasileiros.
Com muito bom humor e bastante engajamento nas redes sociais, os brasileiros viveram estes Jogos Olímpicos da melhor forma possível. Os torcedores comemoraram bastante qualquer uma das 21 medalhas, independentemente da cor, e vibrou bastante com histórias marcantes, como Darlan Romani, o novo queridinho dos brasileiros que, infelizmente, ficou fora do pódio.
Em outros tempos, o brasileiro iria criticar quem não subisse no pódio. Nestes últimos dias, demonstrando humanidade, os torcedores abraçaram as histórias daqueles que não venceram e vibraram muito com as medalhas de bronze e prata, mesmo sem ser o 1º lugar. Finalmente, os brasileiros foram reconhecidos e abraçados pela própria nação. Foi bonito, e tomara que permaneça desta forma!
Darlan Romani
Por conta de uma entrevista bem emotiva após ficar fora do pódio, o gigante brasileiro foi um dos atletas mais comentados. Ele demonstrou em poucos minutos, o carinho com a sua filha, e as dificuldades que passa durante a pandemia. Darlan Romani ficou em 4º lugar no arremesso de peso, e por pouco não conseguiu ir ao pódio. Em 2016, o atleta ficou em 5º, e a sua frustração de chegar bem próximo do pódio mais uma vez, mas não conseguir a medalha, ficou visível na sua entrevista pós-prova. Mesmo assim, os brasileiros abraçaram e ficaram orgulhosos da caminhada de Darlan.
Durante este ciclo, o atleta teve diversos problemas: após o início da pandemia, ele teve que treinar em um terreno baldio para seguir em forma, não pôde contar com o seu treinador devido às restrições acarretados pela COVID-19, contraiu o vírus e foi submetido a uma cirurgia no ombro. Mesmo assim e com toda a falta de investimento no atletismo brasileiro, Darlan Romani chegou entre os melhores do mundo e bateu na trave.
Em entrevista, o atleta brasileiro declarou que irá para Paris, em 2024, e irá trabalhar ainda mais para buscar a medalha. Uma determinação muito bonita e um carinho com a sua filha, Alice, incomparável. Além de ser um dos melhores do mundo no arremesso de peso, Darlan Romani é um ser humano que conquistou o carinho de todos os brasileiros, protagonizando uma das mais lindas histórias destes jogos olímpicos.
Hugo Calderano
O famoso ping-pong é apenas uma diversão para muitos brasileiros, porém houve bastante torcida nesta Olimpíada porque um atleta fez história no tênis de mesa. Hugo Calderano alcançou o melhor desempenho da história do Brasil e chegou às quartas de final depois de eliminar um esloveno e um coreano - os asiáticos dominam o esporte nos jogos olímpicos.
Calderano eliminou o esloveno Bojan Tokic por 4 a 1 na sua estreia, desclassificou o coreano W. J. Jang por 4 a 3 e fez história ao ficar entre os oito melhores do mundo no tênis de mesa. Infelizmente, o brasileiro perdeu de virada por 4 a 2 para o alemão Dimitrij Ovtcharov e ficou fora de uma semifinal que seria um feito ainda mais inimaginável.
Mesmo sem tanta expressão como esporte no Brasil, o tênis de mesa reservou mais um grande feito. Depois de Hugo Calderano alcançar as quartas de final, a equipe brasileira também chegou ao top 8, feito inédito, mas também foi eliminado nas quartas. Por causa destes feitos, a história brasileira no tênis de mesa vem sendo escrita e o futuro indica melhores possibilidades. Falta investimento, mas os brasileiros já mostraram que estão prontos para seguir fazendo história. Vem 2024!
Ana Sátila
Talvez poucos brasileiros soubessem o que é Canoagem Slalom antes da Olimpíada de Tóquio. No entanto, a mineira Ana Sátila colocou este esporte no radar dos brasileiros após alcançar a 1ª final da história do Brasil na Canoagem Slalom. A atleta de 25 anos passou pelas fases preliminares, ficou em 3º na semifinal e chegou à final que já era histórica. Na decisão, ela não conseguiu ir tão bem e ficou no 10º lugar, mas a colocação final não apaga o feito histórico de Ana Sátila, visto que agora ela está entre as melhores do mundo.
A final olímpica significa muito para um esporte que não tem história nenhuma no Brasil. A 1ª vez que uma esportista brasileira chega a esta fase pode ser um marco para a modalidade, e é certo que Ana Sátila tentará ir ainda mais longe nos próximos Jogos Olímpicos. Enquanto isso, esperamos que o investimento aumente para que a atleta possa ir ainda mais longe!
Ygor Coelho
A prática do jogo de peteca é até comum em clubes e ginásios ao redor do Brasil, porém o Badminton, esporte que ainda conta com uma raquete, não é sequer conhecido no nosso país. Até por esta falta de conhecimento, o Brasil nunca havia vencido uma partida em Jogos Olímpicos. No entanto, a Olimpíada de Tóquio contou com um brasileiro que mudou a história do Badminton brasileiro.
O jovem Ygor Coelho é campeão pan-americano de Badminton e já havia feito história em 2019, porém, ele resolveu fazer história olímpica logo na sua estreia neste ano: o atleta de 24 anos venceu Georges Julian Paul das Ilhas Maurício e conquistou a 1ª vitória da história brasileira no esporte. Ainda na fase de grupos, Ygor Coelho perdeu para o japonês Kanta Tsuneyama e foi eliminado da Olímpiada de 2020, porém a história não será apagada: Ygor Coelho foi o 1º brasileiro a vencer uma partida de badminton em Olimpíadas e é um precursor da modalidade no Brasil.
Laura Pigossi e Luisa Stefani
A intenção era destacar apenas os atletas brasileiros que não foram medalhistas, mas a dupla do tênis brasileiro merece ser ressaltada porque os feitos foram inacreditáveis. Laura Pigossi e Luisa Stefani, como muitos devem saber, não sabiam até a semana anterior aos jogos que teriam vaga e, mesmo assim, foram, lutaram, fizeram história e conquistaram o bronze.
A partida que valia o bronze foi muito marcante, e para muitos, foi a medalha mais emocionante do Brasil. Luisa e Laura salvaram quatro matchpoints, viraram um 5-9 para 11-9, e fizeram o Brasil chorar. Porém, antes mesmo da medalha de bronze, as meninas do Brasil já haviam feito história no tênis brasileiro: nenhuma tenista brasileira tinha vencido duas partidas em uma Olimpíada, ou seja, após os dois primeiros jogos elas já tinham feito história. Felizmente para os brasileiros, Laura Pigossi e Luisa Stefani não se contentaram, foram longe e conquistaram a 1ª medalha do tênis brasileiro. Histórico!
Kawan Pereira
O que você estava fazendo com 19 anos? Um jovem brasileiro resolveu colocar o seu nome na história de um esporte sem tanta expressão no Brasil. Kawan Pereira foi para a sua 1ª Olímpiada, conseguiu uma colocação histórica no salto ornamental e é uma das promessas para Paris, nos próximos jogos olímpicos.
O jovem brasileiro ficou em 17º na plataforma de 10 metros e conseguiu a classificação para a semifinal. Porém, era necessário ficar entre os 12 melhores da semi para chegar à final e a classificação seria improvável, visto que o Brasil nunca tinha colocado nenhum atleta na decisão. Porém, Kawan Pereira foi muito bem, fez história e foi para a final do salto ornamental. Um resultado que mostra todo o seu talento. Na final, o atleta brasileiro ficou em 10º e conseguiu um resultado gigante para o país. Olho nele em 2024!
Marcus D’Almeida e Lucas Verthein
Um jovem de 23 anos já colocou o seu nome na história do tiro com arco do Brasil: com o 9º lugar, Marcus D’Almeida alcançou o feito de Ana Marcelle na Olimpíada de 2016. O arqueiro brasileiro chegou às oitavas de final após uma excelente primeira fase, vencendo o britânico Patrick Huston e o holandês Sjef Van Den Berg. Marcus acabou sendo derrotado pelo italiano Mauro Nespoli, ficando de fora das quartas de final, o que seria ainda mais histórico. Mesmo assim, o arqueiro é o homem brasileiro que chegou mais longe no tiro com arco brasileiro e terá apenas 26 anos em Paris!
Para finalizar, Lucas Verthein do Remo também fez história e ainda tem muita história para trilhar, visto que também tem 23 anos e muita disposição para alcançar feitos maiores em 2024. O jovem brasileiro ficou em 12º, sendo eliminado na semifinal do Skiff, uma das modalidades do Remo. O resultado do brasileiro foi o melhor do Skiff em 100 anos e o atleta prometeu, por meio das suas redes sociais, que o Remo ainda dará alegrias para o Brasil. O resultado já foi histórico e a determinação indica que teremos mais lembranças de Lucas no futuro!
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Foram destacados diversos atletas, mas alguns podem ter ficado de fora. Enfim, o recado que fica é que a valorização deve existir, desde os comandantes do esporte brasileiro à torcida. Foco em 2024. Paris é logo ali!
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