Torcida reclama do baixo nível
dos jogos da seleção brasileira, mas esquece que é difícil
enfrentar as europeias com frequência
Por Pedro Bueno
1620 dias. Este é o intervalo entre 15 de junho, data da final da Copa do Mundo de 2018, e 21/11/2022, dia que acontecerá a abertura do mundial de 2022. Portanto, são pouco mais de 53 meses ou 231 semanas entre a última partida do maior torneio de clubes e o recomeço do espetáculo do futebol.
Neste intervalo, as seleções disputam várias competições, vencem, empatam, perdem e nenhuma equipe é tão cobrada como o país que tem cinco taças mundiais.
Quem tem mais, tem cinco
O Brasil é pentacampeão mundial, e de alguns anos para cá, vem perdendo o posto de “país do futebol”. A verdade é que este “título” pouco importa dentro das quatro linhas.
55 anos atrás a seleção de Pelé e companhia entrou na Copa de 1966 com o peso de ser a atual bicampeã do mundo. Resultado? Foram eliminados na fase de grupos daquela Copa na Inglaterra em um grupo que contava com Bulgária, Hungria e Portugal - nenhuma seleção campeã do mundo. Esse foi o pior resultado brasileiro na história dos mundiais - juntamente à campanha em 1930 - e aconteceu justamente na geração de Pelé, que após o tricampeonato, colocou o Brasil como o país do futebol.
O esporte com a bola nos pés é maravilhoso por isso. O Brasil é o maior campeão e não chegará à próxima Copa como o grande favorito. Alemanha e Itália buscam o pentacampeonato, mas, aparentemente, não serão considerados os maiores candidatos ao título. A França, atual campeã, tende a chegar muito forte e buscar o tricampeonato.
No entanto, a imprevisibilidade de uma Copa do Mundo fez o Brasil de Pelé cair na fase de grupos. Além disso, todos os últimos campeões mundiais caíram na 1ª fase do mundial seguinte: França em 2002, Itália em 2010, Espanha em 2014 e Alemanha em 2018. A única exceção são os campeões da Copa do Mundo de 2002 que se classificaram em 2006. Quem foi? O Brasil. É, quem tem mais, tem cinco e não há movimento político e nem ideologia que irá apagar ou ofuscar, os feitos da camisa amarelinha.
O atual momento
A Copa do Mundo de 2022 acontecerá apenas no fim do próximo ano. As seleções estão disputando torneios continentais neste momento e já pensam no mundial que ocorrerá daqui um ano e meio. O Qatar irá receber mais um espetáculo do futebol mundial, onde as zebras, a imprevisibilidade e, principalmente, as críticas vão correr soltas.
Atualmente, a Eurocopa está acontecendo, e devido ao nível técnico, os brasileiros estão assistindo com muita admiração. O torneio continental da Europa tem muito mais qualidade, organização e é muito mais atrativo do que a competição sul-americana. No Brasil, de forma polêmica, a Copa América está sendo realizada com gramado ruim, nível técnico baixo e com uma fórmula de disputa ridícula: 10 seleções divididas em dois grupos de cinco países, onde quatro se classificam, ou seja, não há competitividade em busca da classificação.
Como consequência, a admiração pelo futebol e pelas competições europeias crescem nas discussões brasileiras. O futebol é mais vistoso, o VAR funciona de forma adequada e até a bola “rola melhor”. Infelizmente, é improvável que o Brasil dispute a Eurocopa por motivos óbvios e geográficos, e a seleção brasileira deve seguir enfrentando os rivais sul-americanos.
As críticas
Por causa deste desnível técnico, os torcedores brasileiros, já comentam que o time brasileiro chega despreparado para a Copa do Mundo de 2022, o torneio mais importante de todos. As críticas à seleção comandada por Tite visam tanto a forma de jogo do treinador, quanto os adversários modestos que a seleção enfrenta.
É evidente que a tática imposta pelo técnico da seleção não empolga alguns torcedores, no entanto, os números evidenciam que o trabalho de Tite é bom. O treinador comandou a seleção em 58 jogos, venceu em 43 oportunidades, empatou 11 vezes e perdeu apenas quatro partidas, tendo assim um aproveitamento de aproximadamente 80%. O Brasil de Tite marcou 126 gols em 58 duelos e sofreu somente 21, um número impressionante.
Os brasileiros também reclamam do nível técnico dos vizinhos. A maioria das seleções sul-americanas estão piores do que eram no ciclo passado e o time de Tite está sobrando: 100% nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, campeão da Copa América de 2019 e grande favorito para vencer o torneio continental que está acontecendo.
Além de reclamar da qualidade dos sul-americanos, os torcedores sempre recordam as últimas participações em mata-mata de Copa do Mundo:
2006: eliminou a Gana e perdeu para a França;
2010: eliminou o Chile e perdeu para a Holanda;
2014: eliminou Chile e Colômbia e perdeu para a Alemanha;
2018: eliminou o México e perdeu para a Bélgica.
Analisando as últimas aparições da seleção na Copa do Mundo, fica claro que o país passou regularmente pelos rivais sul-americanos e africanos e, infelizmente, foi eliminado sempre que enfrentou times europeus. O tabu persiste desde a emblemática final de 2002, a qual irá completar 20 anos. Esperamos que no próximo mundial o Brasil mude esta escrita, mas boa parte dos brasileiros duvidam.
Faltam duelos contra europeus
O torcedor reclama, e tem razão: a seleção brasileira deveria duelar mais com as seleções europeias. Após a eliminação para a Bélgica, o Brasil enfrentou apenas a República Tcheca, seleção que faz boa Eurocopa, por sinal, em março de 2019 e não conseguiu jogar mais contra nenhuma equipe do velho continente. Segundo dados do ge.globo, três em cada quatro jogos da seleção brasileira neste ciclo 2018-2022 serão frente aos adversários sul-americanos.
E não é só os torcedores brasileiros que desejam jogar contra as melhores seleções do mundo. Tite já afirmou que gostaria de mais duelos frente às melhores equipes, porém o novo calendário de seleções da Europa impede que isso aconteça.
Após o mundial de 2018, a UEFA criou a Nations League (Liga das Nações) e, praticamente, todas as datas FIFA são utilizadas pelas seleções em competições. Após a Nations de 2018/19, eles embarcaram nas Eliminatórias para a Eurocopa, na edição 20/21 da Liga das Nações e, logo depois, chegaram as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.
As seleções europeias disputam internamente vários confrontos durante o ciclo e se fecharam, de forma que irão potencializar o próprio futebol. Enquanto isso, o Brasil não consegue datas para duelar com os melhores rivais. Não é culpa de Tite. Não é culpa da - polêmica - CBF. Trata-se de uma nova organização no calendário europeu, o qual impedirá confrontos com qualquer seleção que está fora da Europa. Seria possível chamar isso de Eurocentrismo futebolístico?
A realidade do Brasil
Enfim, o Brasil não é culpado por não disputar a Eurocopa e nem conseguir datas para jogar amistosos frente às equipes mais poderosas. A culpa é histórica, geográfica e da própria UEFA. Por enquanto, a realidade brasileira é enfrentar os rivais sul-americanos e seguir dominando, como o Brasil já está fazendo.
Em competições oficiais sob comando de Tite, a seleção brasileira não perdeu para adversários do próprio continente: são quase 30 jogos invictos - se for campeão da Copa América, o Brasil chegará à 30ª partida sem perder para rivais locais. O desempenho local é exemplar e cabe aos comandados de Tite continuarem neste nível.
Lembre-se: em cinco oportunidades, contra sul-americanos, africanos, asiáticos, norte-americanos, oceânicos e, principalmente, europeus, o Brasil se tornou campeão do mundo. E outro detalhe: todas as finais vencidas pela camisa amarela foram diante das seleções do velho continente. O desafio é grande, mas nada impede que o Brasil, soberano na América do Sul, chegue bem à Copa do Mundo de 2022.
Portanto, o time de Tite deve seguir dominando e evoluindo, ao mesmo tempo que o torcedor deve ter calma: o hexacampeonato não será tarefa fácil, mas nem Pelé teve facilidade.
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