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O fim da era Galvão na TV

A aposentadoria do lendário narrador afetará muito o esporte nacional


Por Andrei Gobbo

Equipe Tiro Livre


Antes do jogo da Seleção Brasileira contra o Chile na última quinta-feira, no Maracanã, Galvão Bueno compartilhou em suas redes que aquela seria a sua última narração da camisa canarinho no icônico estádio, deixando os fãs assustados com a possibilidade de aposentadoria.


E essa possibilidade se confirmou na transmissão do jogo, com Galvão Bueno, muito emocionado, anunciando que depois da Copa do Mundo no Catar neste ano, em novembro e dezembro, aposentará a sua voz das transmissões esportivas.


Junto do anúncio, declamou o seu amor pela Seleção, que narrou por tantos anos, inclusive passando pelas duas últimas conquistas do mundo, em 1994 e 2002. Além disso, agradeceu a audiência, a Globo e ao futebol brasileiro por tantos anos de apoio.


É inegável que a idade já estava prejudicando algumas das narrações de Galvão, já com setenta e dois anos. Algumas falhas que não ocorriam antes, uma diminuição no ritmo e na intensidade que marcaram a história da narração esportiva brasileira e mundial.


Em 2019, outro fato preocupante aconteceu. Na véspera da final da Libertadores entre Flamengo e River Plate, em Lima, Galvão teve um infarto e teve que ser hospitalizado às pressas, sendo operado para desobstruir uma artéria. Esses detalhes da idade demonstram o desgaste que ela pode fazer em até a mais icônica figura.


Mas a aposentadoria e a idade não se sobrepõem em qualquer perspectiva a carreira monumental que Galvão teve pela Globo e de tantos momentos marcantes vividos por milhões de brasileiros fãs de esporte, todos eles com a mais intensa das emoções sentidas no estádio transmitidas para as TVs dentro dos lares de todos os cantos do país.


Nascido em 21 de julho de 1950, seis dias depois da derrota do Brasil no Maracanã na Copa e começou a carreira em 1974, pela Rádio e depois pela TV Gazeta, passando por Record e Bandeirantes até chegar na Globo em 1981. Desde então não saiu mais e se construiu como o narrador principal da TV Globo, com seu estilo único e emocionante de narrar.


Com 13 Copas do Mundo narradas no total, 11 pela Globo e, desde 1990, ininterruptamente todas as finais, desde os títulos liderados por Romário e Ronaldo, até o desespero de 1998. Também narrou o vexame do 7x1 contra a Alemanha em 2014, tentando a tarefa impossível de deixar a cabeça erguida o torcedor.


Além dos jogos da Seleção Brasileira, que se tornaram quase impossíveis de se desassociar da voz do Galvão Bueno, ele narrou as conquistas mundiais de vários clubes brasileiros, como a vitória do São Paulo contra o Liverpool de Gerrard em 2005, a conquista do Internacional contra o Barcelona em 2006 e o último troféu do Mundial de Clubes conquistado por um time brasileiro em 2012, com o Corinthians de Cássio ganhando contra o Chelsea.


E Galvão não ficava apenas no futebol, mas em uma série de esportes, dentro das coberturas dos jogos olímpicos, lutas como o UFC e de outras categorias. Um dos mais icônicos momentos de Galvão vai além dos esportes tradicionais e vai para o automobilismo, na Fórmula Um.


As conquistas do tricampeonato de Ayrton Senna com a voz de Galvão Bueno elevou Senna ao patamar de herói nacional e símbolo do patriotismo, narrando momentos como a vitória em Interlagos em 1991, com Senna ganhando com apenas uma marcha e superando o tabu de não ter ainda conquistado o GP do Brasil.


E só de falar dele sem falar dos inúmeros bordões e frases marcantes, muitos já surgem na mente. “Ayrton Senna do Brasil, “olha o que ele fez”, “bem amigos”, “é tetra”, “vai que é sua Taffarel”, “ronaldinho”, “lá vem mais” e outros tantos que marcaram não só o esporte e as transmissões, mas a cultura nacional como um todo. É impossível pensar no Brasil e sua cultura televisiva sem lembrar de Galvão.


E ele, de tanto ícone que se tornou nas transmissões, chegou até ser tachado de chato e falarem “cala a boca Galvão”, justamente pela visibilidade incomparável de tantos jogos e transmissões e todos eles com o máximo de emoção possível.


Mas nesses últimos dias, quando a notícia da aposentadoria foi anunciada, foi um verdadeiro choque para todo mundo. Como deixar de ouvir uma voz tão ligada ao esporte nacional de uma hora para a outra, sem sentir saudade e querer que ele continue. Mas a idade é implacável e o glorioso “contador de histórias” pode descansar em paz porque ele influenciou uma legião de narradores, comentaristas, jornalistas e fãs do esporte.


Vendo os vídeos das transmissões desses momentos marcantes para relembrar essa jornada maestral de Galvão Bueno com o microfone, é impossível não se emocionar junto dele, desde as comemorações que estavam presas no fundo do pulmão, as alegrias de uma conquista tão aguardadas, até as mais dolorosas decepções e tragédias. É de cair lágrimas.


Como estudante de jornalismo, com o objetivo de virar narrador esportivo, fanático pelo esporte e com o Galvão Bueno como uma figura marcante e icônica no jornalismo esportivo, esse anuncio me afetou e afetou a tantos outros de forma marcante. Nem quero pensar em como vai ser o último jogo da seleção narrado pelo Galvão.


Mas agora é desejar uma boa aposentadoria para o maior narrador televisivo da história do Brasil, que aproveite seus vinhos que gosta e tanto fala em suas redes sociais.


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