Por Coletivo Acolhidas
Foram dois anos de extrema preocupação. Isolados (ou não) em casa, vivenciando um momento totalmente novo e incerto, de alguma forma compartilhamos muitos medos, mas alguns, somente uma parcela da população pode entender. A Organização das Nações Unidas estima que uma em cada três mulheres irá sofrer algum tipo de violência de gênero durante a sua vida. Apesar de ser significativo, aquelas que vivem o “ser mulher”, não se assustam mais com os números. Em alguns momentos, até se questiona se as estatísticas e previsões abarcam realmente a nossa vivência e as suas dores.
Durante o período de pandemia, a tendência foi o aumento dos casos de violência, principalmente em razão de estarmos isoladas em casa. Então, em um novo momento muitas tiveram que se adaptar e tentar sobreviver às duras penas um período que parecia interminável. Já não bastasse as inseguranças financeiras, o medo do vírus e a incerteza do futuro, nossa saúde era também afetada pelo medo de conviver o tempo todo com mais uma doença: o machismo.
E então a vacina surgiu. Comemoramos a cada dose, torcendo para que nossas relações virtuais pudessem se tornar mais reais, e o mundo fosse de novo um local a ser explorado e vivido. Deixamos de viver em quatro paredes, para vivermos ao ar livre, ou até ter a possibilidade de escolha dos espaços que queremos ocupar. Começamos a fazer planos. As conversas com as amigas seriam mais calorosas, as aulas fariam mais sentido, e enfim o mundo poderia ser nosso.
É bonito e chega a ser poético imaginar que uma mulher possa viver sua liberdade de experienciar o mundo. É bonito pensar, até que nos deparamos com mais uma situação de violência, cada vez mais perto de nós, afetando nossas iguais, e nos fazendo perceber o quanto ainda estamos inseguras. Se em casa não tínhamos total segurança, na faculdade temos menos ainda. No ônibus, na rua, no bar, na escola e no trabalho. Nossa vida sendo permeada pelo medo e pela violência.
E ser forte não é uma questão de escolha. Nós sobrevivemos porque lutamos contra a nossa desesperança e decidimos acreditar que é possível mudar. Mas não é fácil. Não é fácil perceber que nossas irmãs passam por tantas situações, melhores ou piores que as nossas. É nesses momentos que nos sentimos fracas. Nos perguntamos “onde erramos” ou “até quando”. Questionamos a crueldade do mundo, ou até quando situações de violência (independente de qual sejam) continuarão. E nossas filhas, sobrinhas, amigas, namoradas, esposas, mães? Até quando eu terei medo por mim e pelas minhas?
Não é fácil nos colocarmos nesse lugar. A luta e a fraqueza são opostas desconfortáveis. Se estamos fracas, nos sentimos impotentes. Mas lutar o tempo todo nos cansa. Esse looping de situações nos colocam em uma montanha russa que não escolhemos entrar. Fomos colocadas ali, por sermos alguém que o patriarcado quer destruir.
Nos violentam porque sabem que, se inteiras, somos fortes demais para eles. Como falado no “Um feminismo para os 99%”, somos a força motriz do mundo. Geramos, criamos e cuidamos (mesmo sem querer), de toda a cadeia. Se há dúvida, se questione: em qual lugar você nunca viu uma mulher? Somos necessárias para a manutenção da vida. Não se engane, eles sabem disso, só não estão preparados para admitir o que Galileu já disse há tempos: o homem não é o centro do mundo.
Mas então, o que podemos fazer? Diante de tudo isso, nos resta lutar. Não podemos nos paralisar diante das violências. Quando ocorrem, lutemos para acolher e proteger as violentadas. Para evitá-las, nos conscientizaremos e espalharemos a “palavra de igualdade”. Para aniquilá-las, que sejamos feministas, e acreditemos que o patriarcado é o nosso maior inimigo, e faremos de tudo para destruí-lo.
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