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Os benefícios do esporte para o desempenho acadêmico dos universitários no contexto pós-EAD


Por Maria Eugênia e Janaína Bernadino

A realidade pré-isolamento aos poucos ressurge, com os encontros presenciais e a convivência social de volta. No âmbito universitário, os discentes se vêem de volta ao campus, e a volta à ‘normalidade’ após meses de isolamento tem sido um desafio em diversos contextos.


atleta de tênis uberlandense concentra-se ao ler um livro após partida de treino. Foto: Maria Eugênia

Os períodos letivos especiais no formato remoto tiveram impactos negativos nas esferas sociais, mentais e fisiológicas, o que implica também na saúde cognitiva dos estudantes. Como resultado, o desempenho das responsabilidades acadêmicas e a resposta às demandas típicas deste nível de ensino foram afetadas, e isso tem refletido na readaptação ao presencial. Uma importante “chave” para ajudar a superar esses impactos nesse momento é a prática esportiva, que proporciona muito além de saúde corporal e bem-estar mental ou social, promovendo também saúde cognitiva.


Em diálogo com a equipe do Senso InComum, a Profª Drª Telma Matos, especialista em Fisiologia e Metodologia da Atividade Física Personalizada com formação em Psicologia do Esporte e especializanda em Neuropsicologia, tratará sobre os efeitos cognitivos do esporte e como tais efeitos podem refletir positivamente no desempenho intelectual e cognitivo.


A psicóloga explica como esporte e o exercício físico podem ser grandes aliados dos discentes nesses processos de readequação, de modo a beneficiar o desempenho acadêmico no domínio cognitivo após o EAD, em que o aprendizado, a concentração, a memória e outras capacidades foram prejudicadas.


Senso (in)comum: O que envolve o sistema funcional cognitivo no nosso organismo?

Telma Matos: As funções cognitivas fazem parte do que chamamos de "funções executivas”, que por sua vez são as habilidades cognitivas necessárias para controlar nossos pensamentos, emoções e ações mentais, como concentração e memória. É importante ressaltar que nossas funções cerebrais não funcionam de maneira isolada, elas são vinculadas. Quando falamos sobre aprendizado e memória, por exemplo, elas estão associadas e dependem uma da outra, pois o aprendizado é uma reconexão da memória, e a memória é um estímulo que é retido e armazenado, que futuramente pode ser acessado ou “capturado”. Então a aprendizagem depende da memória, e assim acontece com as outras áreas do nosso cérebro.


Senso (in)comum: Alguns estudos demonstram que indivíduos fisicamente ativos possuem um processamento cognitivo mais rápido. Isso é verdade? E porque acontece?

Telma Matos: Para além da liberação de hormônios e estimulantes, tais como endorfina, serotonina, noradrenalina ou norepinefrina, a prática do esporte está relacionada a uma enzima no corpo humano, chamada Neprilisina, que é responsável pelo aumento da sobrevivência dos neurônios e também pela potencialização da produção dos mesmos. Tudo isso promove o aumento da neurogênese, consequentemente estimulando o aumento das sinapses cerebrais, o que deixa o cérebro mais operante, com maior oxigenação e mais fluxo sanguíneo, melhorando assim a função cognitiva.

Para mais, com a atividade física, os músculos liberam o hormônio Irisina, que tem um fator neuroprotetor cerebral que promove a proteção das memórias. Além disso, não se pode descartar que o exercício físico leva ao aumento da concentração de serotonina e β-endorfina, resultando em uma sensação de bem-estar. Então essas respostas fisiológicas demonstram que o esporte é sim estimulador do processamento cognitivo.


Senso (in)comum: Você acredita que houve um declínio da performance cognitiva entre os estudantes, tendo em vista os períodos letivos especiais no formato remoto durante o isolamento?

Telma Matos: A pandemia que se instaurou no mundo demandou uma superação de desafios em todas as esferas sociais. Exigiu do contexto educacional, ações emergenciais necessárias para garantir a continuidade da Educação Superior. Ainda que, no momento, não seja possível avaliar de forma mais ampla o sofrimento psíquico desse período, existem diversas pessoas que já estão enfrentando problemas derivados do formato de ensino remoto nas universidades. Os jovens universitários podem apresentar, por exemplo, quadros de depressão, ansiedade e perda de memória social. Essa última diz respeito ao reconhecimento de seus pares. Além disso, no período de isolamento, o excesso tecnológico foi de fato prejudicial; nós nos víamos horas em frente ao computador, e isso não é saudável.


Senso (in)comum: O esporte pode ajudar os universitários a cultivar uma boa saúde cognitiva e um bom desempenho acadêmico no retorno presencial?

Telma Matos: Como vimos, a prática de exercício pode melhorar a circulação sanguínea no cérebro, alterando assim a degradação dos neurotransmissores. Este é considerado o efeito direto da atividade física na melhoria da velocidade do processamento cognitivo. Além desse efeito direto, existem alguns mecanismos indiretos que podem promover a saúde mental, como redução da pressão arterial, redução dos níveis de triglicerídeos no sangue e inibição da agregação plaquetária.

Quando pensamos nesse contexto de retorno presencial, a prática esportiva - quando é regular e em conjunto com práticas de exercícios mentais, como meditação guiada, visualizações positivas, práticas de mindfulness - pode favorecer muito no desempenho acadêmico dos universitários. O movimento de retorno dos esportes universitários e das atléticas, por exemplo, é algo imprescindível nesse momento, porque envolve o vínculo, a troca, a socialização, a brincadeira e o lúdico.

Para mais, a prática esportiva inserida na rotina promove um sono de melhor qualidade, ajudando na regularização e na estabilidade do ciclo circadiano, que afeta intensamente nos processos cognitivos de aprendizagem, de modo que quanto mais estável for o ciclo de sono, melhor a estrutura cognitiva frente ao aprendizado, a memória, a concentração e entre outros.


Senso (in)comum: De que forma a preservação da saúde mental, por meio do esporte, contempla a saúde cognitiva?

Telma Matos: Em uma das áreas teóricas da psicologia, existe uma pirâmide representativa composta de 3 pilares que representam a premissa para a manutenção do “bem-estar geral''. A base da pirâmide simboliza as nossas necessidades fisiológicas e psicológicas. Se essa base não estiver assegurada, os outros níveis da pirâmide não tem uma boa sustentação e não conseguem ser assegurados também. Então as necessidades fisiológicas e mentais garantem as necessidades sociais e as necessidades cognitivas.

Se nossa saúde mental e nosso bem-estar estão prejudicados, isso irá reverberar em todas as outras áreas do corpo, inclusive na saúde cognitiva e, consequentemente, no aprendizado e no desempenho acadêmico, podendo provocar também patologias psicossomáticas.


Senso (in)comum: Existem critérios importantes para que a prática esportiva tenha resultados efetivos na performance cognitiva e em todos os outros aspectos que comentamos?

Telma Matos: Existem 3 pontos essenciais que envolvem, dentro da psicologia do esporte, a tríade da performance de excelência, chamada de “PPD” (Paciência, Persistência e Disciplina). Essa tríade pode e deve ser aplicada para qualquer pessoa quando se fala em prática corporal de atividade física ou de esporte. Além disso, minha recomendação é buscar a prática esportiva que dê prazer. Independente de qual prática corporal esteja sendo efetivada, os benefícios irão existir e se manifestar se existir o prazer.


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