Atletas precisam driblar as adversidades para se dedicar às vidas acadêmica e esportiva
Por Ana Thommen, Marianne Kazue e Suianne Souza
Durante o CIA (Copa Inter Atléticas) 2023 no mês de junho, estudantes se reuniram em Uberaba para competições de diversas modalidades, após um intenso período de treinos. A competição e a rotina de treinos não são apenas parte da vida de atletas profissionais, mas também da vida de atletas universitários. Quanto mais perto da competição, mais eles se dedicam para alcançar melhores atuações, equilibrando responsabilidades acadêmicas e profissionais.
Giovanna Borges, estudante de Medicina Veterinária e atleta de peteca, foi federada ainda no ensino médio e se tornou quatro vezes campeã brasileira da modalidade, sendo a mais jovem a ficar no Ranking Brasil. Atualmente, além de atleta, é também professora na Atlética da Agrárias. “Quando ia treinar eu podia falar ‘Hoje não vou, porque amanhã tenho prova’. Atualmente, como professora, não posso fazer isso. No período pré-CIA, aumentaram os treinos por semana e sempre tem um amistoso, e com isso eu tive que aprender a ser mais organizada.” comenta Giovanna.
Atletas universitários e a rotina acadêmica
Para equilibrar a vida pessoal, profissional, acadêmica e do esporte, Giovanna têm que se esforçar para não deixar a peteca cair. Essa também é uma realidade para Rafael Fumero, Diretor de Esportes e atleta da Atlética Humanas.“A maioria das pessoas tem o mesmo problema que eu tenho. Elas estudam, trabalham e tem como único período livre a noite para fazer tudo: esportes, tarefa, questões do trabalho. Então tem que entregar muito para fazer parte das equipes, é muito comum a gente soltar lista de treino e o pessoal falar, ‘tenho coisas para fazer do trabalho’, é um problema muito sério.”.
Na Atlética Humanas, mais de 2000 universitários são impactados pela prática esportiva universitária na Atlética, segundo a entidade.“O esporte universitário influencia no dia a dia, da mesma maneira que ele vai gerar serotonina e te ajudar a aproveitar melhor o tempo da universidade, mas vai entregar algumas dores, problemas que podem avançar para crônicos, problemas de preocupação por uma paixão, tudo isso faz parte do cotidiano. Não é uma coisa a parte que no seu final de semana você vai jogar um vôlei”, afirma o responsável pela administração da entidade.
Atleta profissional ou universitário?
“Eu diria que podemos categorizar três tipos de atletas: aqueles que estão pela saúde e lazer, a galera que vai para competir em jogos universitários e o profissional, que é muito valorizado dentro das atléticas”, comenta Rafael, sobre os diferentes tipos de atleta no ambiente universitário.
A profissionalização é um sonho para muitos que vêem no esporte uma forma de continuar carreira, como o caso de Alex Morais. Atualmente, o atleta de vôlei participa de campeonatos amadores, mas no passado foi parte da equipe de Alto Rendimento de Uberlândia. O esportista relata que quando sai da cidade para competir, tem contatos com níveis bem diferentes, inclusive com atletas profissionais, “Enquanto você está no time de atlética é um certo nível de participantes. Depois, quando passa para o time da faculdade, a seleção é mais criteriosa e a cada nível que você vai subindo, ela aumenta.”
Incentivo ao esporte - uma necessidade
A realidade dos atletas brasileiros, sejam eles profissionais ou amadores, passa por dificuldades como o auxílio e incentivo. Desde 2005, o Governo Brasileiro promove o Bolsa Atleta, o maior programa de patrocínio individual de atletas do mundo que já atendeu mais de 17 mil esportistas desde o início, segundo o Ministério do Esporte.
O valor da bolsa varia segundo a modalidade do atleta, que pode ser entre R$370,00 e R$15.000,00 por mês. Os atletas universitários não-reconhecidos como destaque, e que por isso não se encaixam no programa do Governo, não recebem apoio financeiro, mas podem recorrer aos incentivos das Instituições de Ensino.
Em 2023, a Delegação de atletas para o JUMs da UFU contou com 180 estudantes de diversos cursos, segundo a universidade. A participação de alunos no esporte está ligada ao incentivo e apoio da Instituição e das Atléticas que promovem a prática.“No Brasil, nós temos uma realidade difícil para o atleta, dificuldades de reconhecimento, orçamento e apoio. Acho que o problema no Brasil é como o esporte é visto, como não aceitável para a comunidade,” aponta Fumero.
Em declaração ao portal da UFU, Cláudio Barbosa, diretor da Diretoria de Qualidade de Vida do Estudante (Dirve), contou que a recém-implantação de um auxílio competição foi essencial para que a UFU pudesse se destacar entre as delegações do JUMs: “é uma grande conquista poder contribuir para que os atletas tenham mais conforto e tranquilidade ao disputar campeonatos, sem grandes preocupações com alimentação, hospedagem, transporte e seguro-saúde”.
Contudo, o caso é uma ocorrência isolada, a falta de investimento no esporte aumentou com a extinção do Ministério do Esporte em 2019. Assim, o sonho de praticar esporte, de forma amadora ou profissional, se tornou distante para jovens brasileiros.“Acredito que precisamos entender como a formação do atleta é lenta e precisa de investimentos. Acho que poderia haver incentivo nas escolas e na universidade para atletas, mas também deveria haver a promoção do esporte como saúde e sociabilidade.” completa Rafael.
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