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Silêncio

Por Milena Félix

Sinestesia Literária

Na nossa imaginação, a violência se dá de maneira escancarada. O primeiro sinal de um relacionamento abusivo é um tapa na cara que uma mulher recebe, surpresa, de seu companheiro, que antes era um homem bom.


Na nossa imaginação, o bullying é um complô de amigos que gritam o quanto o outro é imprestável. A exclusão social vem por meio de risadinhas. O estupro vem de quem não se espera, num beco na rua.


Mas nada disso é real. A verdadeira ordem da violência é escondida. A exclusão social, o abuso sexual, a violência doméstica... tudo ocorre de um jeito de que ninguém desconfia. É silencioso, é opressor. No final, se alguém desconfiar, nem faz nada, porque “não é para tanto”.


Tudo que permanece escondido, tudo que é um tabu, é violência para alguém de alguma forma. O racismo é ainda mais grave quando todo mundo diz que não é racista. No Brasil, as pessoas têm o hábito de fazer coisas erradas sorrindo, jurando que são “cidadãs de bem”.


É por isso que eu escrevo. A cada linha, uma revelação daquilo de que ninguém fala. Se ninguém fala, é porque é um segredo. E segredos envolvem sempre o prejuízo de alguém – provavelmente, do mais fraco. Talvez você não veja, mas esse mundo é injusto. E o que permite toda a injustiça é o silêncio.


Que nas minhas palavras nunca haja silêncio algum. E que nas suas também não.


As palavras, quando ditas, são capazes de curar. Curar o interior e curar a sociedade. Afinal, por que fazer terapia é bom? Porque ela nos faz tomar consciência das coisas que desconhecíamos em nosso próprio eu. Assim, temos a oportunidade de mudar. É a mesma coisa que as palavras representam: são gatilhos que nos conscientizam. Quando escrevemos e lemos sobre coisas que nós vivenciamos, entendemos melhor, e passamos a ser agentes da transformação de nossas próprias vidas.


Afinal de contas, a mensagem é uma só: não guarde silêncio nenhum. Fale!


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