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Testes precisam chegar em alguma conclusão

A seleção brasileira de futebol feminino concluiu hoje seus dois jogos amistosos contra a equipe da Austrália


Por Ítana Santos

Tiro Livre


Acordar cedo no sábado não é uma tarefa muito legal a se fazer, mas pela seleção brasileira de futebol feminino foi necessário. Porém, acordar às 5h30 e ver o time perder num jogo bem problemático jogou um balde de água fria logo de manhã.


No último sábado, 23, e nesta terça-feira, 26, o Brasil fez dois jogos amistosos contra as Matildas, apelido dado a seleção australiana de futebol feminino. Os jogos foram mais uma oportunidade para a técnica sueca Pia Sundhage organizar sua equipe para o próximo ciclo da seleção após serem eliminadas nas quartas de finais das Olímpiadas em Tóquio, neste ano, pelo Canadá, que mais tarde foi campeão da competição.


A discussão de hoje é um pouco sobre o trabalho da comandante Pia. A primeira pergunta que faço é: que horas a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) irá começar exigir um pouco mais dela? Não estou propondo aqui ações que pressionem o trabalho afim de impor ameaças de demissão, mas atitudes que exijam menos loucuras, teimosias, testes esquisitos e mais constância ao elenco.


Técnica Pia Sundhage em Sydney Showground, no último treino da seleção antes do segundo amistoso diante da Austrália. Foto: Thais Magalhães/CBF

A sueca está desde 2019 no comando da seleção e, mesmo que o Brasil tenha só três derrotas sob seu comando, a técnica ainda não conseguiu montar o time com uma cara. Muito menos fazer um bom jogo contra equipes fortes. O único foi o empate de 3 x 3 contra a Holanda na última Olímpiadas, mas logo em seguida fez um jogo sofrido contra a Zâmbia ganhando por 1 x 0.


A nossa seleção, agora, tem tudo que precisa para ser forte e bater de frente com outras grandes equipes. Temos um campeonato nacional com nível mais elevado e que já está abastecendo seleção brasileira, temos uma técnica com muita experiência no futebol, tanto como jogadora quanto treinadora, além de ter um histórico campeão, temos a atenção profissional e com mais estrutura por parte da CBF, além de atletas que são estrelas do futebol mundial e ainda estão em atuação. Porém ainda falta algo, falta mais. Falta aproveitar potencial das nossas jogadoras e potencializa-las em campo.


Um dos problemas que a torcida, também os analistas e jornalistas de futebol, mais reclamavam era a insistência na goleira Bárbara do Avaí Kindermann que já não passava mais segurança em campo. Esse problema, pelo visto, já foi solucionado e as novas escolhas, principalmente nesta última convocação, agradaram. A goleira Letícia Izidoro (Lelê), do Benfica de Portugal, parece ter assumido a titularidade da equipe agora. Tanto ela quanto a Aline, do Granadilla Tenerife da Espanha, que costuma ser convocada, são ótimas na defesa e no jogo com os pés. Passam segurança.


Goleira Lelê no jogo contra a Austrália hoje, 26, de manhã. Foto: Thaís Magalhães/CBF

Nesta última lista, a convocação da Karen, goleira do Minas Brasília, também deixou os fãs do brasileirão felizes, porque ela mesmo estando numa equipe limitada conseguiu se destacar e ir para seleção. A arqueira do time candango durante o campeonato deve ter defendido um pênalti a cada três jogos. É esse tipo de renovação que queremos para a seleção. Dar chances para quem se destaca em sua posição e não improvisar jogadora, o que é motivo de muitas críticas quanto o trabalho da Pia.


Nós vemos muito essa insistência de improvisação e testes com as laterais e o meio de campo. Ela adora colocar atacantes de ponta, agudas nessas posições e esse é um teste que falha muito, compromete todo o time.


Para a linha de defesa parece que ela já encontrou bons nomes para o próximo ciclo. Por mais que a lateral esquerda Tamires e a zagueira Érika, ambas do Corinthians, sejam nomes experientes, elas, com as zagueiras Antônia do Madrid da Espanha, Rafaelle do Changchun da China, as laterais Bruninha do Santos e Yasmin do Corinthians se mostraram muito seguras para defender, iniciar o jogo e se apresentarem nas jogadas ofensivas. Mas ela ainda pode, e queremos muito, que ela teste a Bruna Calderan do Palmeiras na lateral direita também. No geral, esses nomes são os que devem ganhar uma sequência de jogos com a seleção para chegar ainda mais entrosado e seguro nos campeonatos, como a Copa América ano que vem.


Primeiro treino com grupo completo em Sydney Showground, na Austrália, antes do primeiro jogo. Foto: Thaís Magalhães

Agora, o meio de campo está faltando liga. Este é o setor mais problemático. Elas não conseguem receber e armar o jogo pelo meio. Jogam toda a responsabilidade nas laterais que ficam duplamente marcadas. Mas, neste caso, o erro está na escalação da Pia que insiste em colocar meias, que deviam estar mais próximas da área, para fazer essa saída, ajudar na marcação e acaba tirando toda criatividade lá da frente.


Contra times muito fortes na marcação e bem preenchidos, como a Austrália, o Brasil fica só com a chance de um contra ataque. Mas o ataque todo encaixotado que a técnica monta acaba poucas vezes funcionando com esta jogada. Pior ainda, no jogo do sábado, ela testou uma zagueira, nova, primeira vez selecionada, como volante. Infelizmente ela foi responsável pelo terceiro gol que o time canarinho tomou no jogo.


Aí a gente culpa a performance dela ou o teste sem explicação da Pia que tem ótimos nomes para colocar nesta posição, mas fica improvisando?


Não há uma pessoa que acompanhe o futebol feminino que não defenda Gabi Zanotti, Angelina, Luana, Bia Zaneratto, Andressinha, Julia Bianchi e Duda Santos para esse meio de campo para ajudar na saíada. No caso da Bia foi um impedimento do clube dela, Changchun da China, não estar nesta última lista. Mas a Zanotti é uma questão de escolha mesmo que ela insiste em não fazer.


Gabi Zanotti, camisa 10 do Corinthians, é um dos nomes mais pedidos na seleção. Foto: Rebeca Reis/CBF

Com isso, não há como cobrar que a Marta marque, arme e ataque no jogo, que a Debinha resolva na habilidade ou a Ludmilla saia correndo no ataque. A bola chega com muita dificuldade e essas atacantes estão sempre presas nas posições. No jogo do sábado vimos a Adriana, do Corinthians, que marcou o único gol da equipe, tendo que fazer o jogo sozinha. Buscar a bola, fazer o drible, fazer pressão na defesa e puxar com velocidade.


Melhoramos a defesa do time, mas enfraquecemos aquilo que era forte, o ataque, e sobrecarregamos as laterais que em alguns jogos foram super improvisadas, além de não conseguirmos dar continuidade e qualidade ao meio de campo na ligação e criação.


Testes de peças são bem vindos e devem ser feitos, principalmente em jogos amistosos. Mas continuidade é ainda mais importante, principalmente no caso da seleção que não tem muito tempo junto. Já que a Pia não vai tentar novas formações táticas, pelo menos que tente com jogadoras da posição, que a desempenhem com excelência, ao invés de forçar posições.


Quando jogamos contra equipes do nosso continente ou outras de pouca tradição parece que o time está engrenando. Mas quando pegamos outros com marcação encaixada como Canadá, Austrália, acabamos sofrendo e perdendo. Enfrentar uma França, Estados Unidos e Suécia então, que são super ofensivos, é infelizmente esperar uma derrota, a não ser que o individual ou o dia da outra equipe modifique esse cenário.


Marta, 6x melhor do mundo e camisa 10 da seleção brasileira, no jogo de sábado, 23, contra a Austrália. Foto; Thaís Magalhães/CBF

Hoje, às 6h foi o segundo amistoso contra a Austrália. Todos estavam esperando mudanças, principalmente no meio de campo, e elas vieram. Esta foi a chance da Pia mostrar, mais uma vez, que ela está afim de largar suas teimosias e insistências como no caso da goleira titular.


Foi muito bem na escalação de toda a equipe. O 4-4-2 de hoje tinha Marta e Debinha no ataque, se intercalando entre quem fica mais a frente para finalizar. No meio tinha Adriana e Kerolin para fecharem das pontas para o centro e/ou finalizarem. Duda Santos e Angelina recebendo da defesa e ligando ao ataque sem colocar toda a criação nas laterais.


O time só não ficou 100% redondo porque, novamente, houve um teste desnecessário. A zagueira Antônia foi para a lateral direita, no lugar da Bruninha, que fez muito bem sua função no primeiro jogo e nos outros dois contra a Argentina. Na zaga, quem formou dupla com a Érika foi a Tainara, do Palmeiras, que além de não ser uma jogadora que eu defenda estar na seleção atualmente, visto sua última temporada, não deu a mesma segurança que a Antônia na posição.


A outra lateral, Tamires, e a goleira Lelê não há o que contestar. Jogaram bem e se mostram donas da posição. Hoje, foi apenas a entrada de uma jogadora, empurrando uma outra, que impediu a técnica Pia de ser amiga da perfeição.


Uma hora o teste tem que chegar em alguma conclusão!


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